Assentados da reforma agrária usam anúncios em jornais para vender lotes em assentamentos do interior de São Paulo. A prática é proibida e pode configurar crime. Um dos anúncios, publicado no último dia 10 na página de classificados do Jornal da Cidade, de Bauru, oferecia um lote de cinco alqueires (12,1 hectares) por R$ 60 mil. A reportagem entrou em contato com o telefone anunciado e o assentado, que se identificou como Nelson Pontes, confirmou o interesse em vender o lote 298, no Assentamento Aimorés, administrado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Pederneiras, município da região.

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Ele deu as características do imóvel, em terreno plano, próximo da rodovia Marechal Rondon, com benfeitorias como uma casa de quatro cômodos com piso frio, poço artesiano e dois alqueires com plantações. Ao justificar o preço barato, disse que a terra ainda não tem escritura. “É uma terra de assentamento e o documento é um contrato de gaveta, mas o título do Incra deve sair em três anos”, explicou. Pontes contou ter comprado o lote do assentado que o recebeu do Incra. “Estava cheio de eucalipto, ele vendeu a madeira e não conseguiu tocar o lote, por isso me vendeu. Quando ele pegar o título, ele transfere. Eu tenho uma procuração.”

Segundo ele, mais da metade dos 245 assentados puseram os lotes à venda. “O pessoal tirou o eucalipto e não sabe o que fazer com o lote. Mexer com a terra não é fácil.” Pontes contou que pôs a terra à venda porque está montando um porto de areia e precisa do dinheiro. Ele tem negócios em Bauru e mantém “um moço” tomando conta do lote. “Já falei que ele precisa desocupar.”

A superintendência do Incra em São Paulo informou, através da assessoria de imprensa, que a venda de lotes da reforma agrária é ilegal, pois se tratam de bens públicos e o assentado tem apenas a concessão de uso. “O lote de assentamento é patrimônio público e não pode ser negociado dessa forma.” Segundo a assessoria, o Incra vai fazer uma vistoria no assentamento e tomar medidas para excluir eventuais ocupantes ilegais.

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