O Supremo Tribunal Federal (STF) deve derrubar a aplicação da Lei da Ficha Limpa para as eleições do ano passado. Por ter sido aprovada em ano eleitoral, a expectativa na Corte é de que a maioria dos ministros, incluindo o novo integrante do tribunal, Luiz Fux, conclua que a lei só poderia vigorar para as eleições de 2012. Com essa decisão, políticos que foram eleitos, mas barrados pela Lei da Ficha Limpa poderão tomar posse.

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Dentre os nomes que serão beneficiados pela decisão estão Jader Barbalho (PMDB-PA), eleito para o Senado, mas barrado por ter renunciado ao mandato em 2001 para fugir do processo de cassação, o ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), cassado por abuso do poder econômico, e João Capiberibe (PSB-AP), que teve o mandato de senador cassado em 2004 por compra de votos. Todos tiveram votos suficientes para se elegerem para o Senado, mas acabaram barrados pela justiça eleitoral.

Os candidatos que assumiram essas vagas deverão perder os mandatos para que os chamados fichas-suja assumam. Na Câmara, com a alteração do coeficiente eleitoral, deputados que hoje estão exercendo mandato deverão deixar a Casa para dar a vaga para outras pessoas. Todo esse processo, adiantam os ministros, deverá gerar confusão.

Mas a decisão do STF deve deixar em aberto se a lei é constitucional ou inconstitucional. Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes, relator do recurso que será julgado hoje, do candidato a deputado estadual Leonídio Bouças, questionará todos os pontos polêmicos da lei. No entanto, o “caminho mais fácil”, como definiu um ministro, será apenas dizer que a legislação não poderia ser aplicada nas eleições do ano passado.

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Assim, os diversos pontos polêmicos da lei, como a inelegibilidade para quem for condenado por órgão colegiado, ficarão à espera de um futuro e incerto julgamento do Supremo. Isso deverá acontecer apenas no ano que vem, quando candidatos a vereadores e prefeitos forem barrados pela justiça eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa e recorrerem novamente ao Supremo. Até lá, a polêmica permanecerá aberta.

A decisão desta quarta-feira, mesmo não extinguindo a polêmica, resolverá o impasse que foi criado no ano passado em razão da falta de um integrante da Corte e do empate nos julgamentos dos processos de Joaquim Roriz, então candidato ao governo do Distrito Federal e de Jader Barbalho, então aspirante a uma vaga no Senado.

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No ano passado, quando os recursos dos dois políticos foram julgados, o STF estava com sua composição incompleta. O ministro Eros Grau aposentou-se em agosto e seu substituto, Luiz Fux, tomou posse apenas neste mês de março. As votações terminaram empatadas em 5 a 5. Diante do impasse, Roriz renunciou à candidatura. Quanto à Barbalho, o STF concluiu que por causa do empate deveria prevalecia o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contrário à candidatura do político.

Com a chegada de Fux no STF um novo empate é impossível já que o tribunal tem 11 ministros. Fux já elogiou a Lei da Ficha Limpa em entrevistas que concedeu à imprensa. Mas como ele é tido como um legalista, ministros do Supremo e assessores do tribunal acreditam que ele seguirá uma regra da Constituição segundo a qual uma lei que alterar o processo eleitoral não poderá ser aplicada à eleição que ocorra até um ano de sua entrada em vigor