Stephanes responsabiliza Banco Central por prejuízos

O ex-presidente do Banestado, Reinhold Stephanes, atual secretário estadual de Administração, apontou a excessiva burocracia do Banco Central como um dos fatores que mais contribuíram para agravar a crise enfrentada pelo banco estatal paranaense no período de 1996 até o ano que precedeu a privatização.

Em seu depoimento à CPI do Banestado na Assembléia Legislativa, ontem de manhã, ele contou que numa reunião com a diretoria do Bacen cobrou uma fiscalização mais efetiva sobre as irregularidades denunciadas e sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Em sua opinião, se as providências tomadas para profissionalizar a gestão do banco tivéssem sido antecipadas em um ano, seriam grandes as chances de que ele sobrevivesse sem privatização. e reforçou que suas divergências com o governo do Estado se deviam ao cronograma estabelecido no contrato com o Banco Central: se o leilão ocorresse após a venda do Banco do Estado de São Paulo – Banespa- Stephanes acredita que obteria preço melhor.

Além do secretário, foi ouvido ontem o consultor jurídico do Tribunal de Contas, Edgar Antônio Guimarães, que estranhou a convocação. No período de saneamento e privatização do Banestado, ele exercia as funções de diretor-geral do TC, cargo administrativo sem participação direta ou indireta em fiscalização. Explicou que o TC constituiu uma comissão técnica para acompanhar o processo. Adiantou que a fiscalização do Banestado estava afeta à 7.ª Inspetoria de Controle Externo do órgão, coordenado nos períodos de 1996/1997 e 1998/1999 pelo conselheiro Henrique Neigeboren, hoje presidente daquela corte

Hoje a CPI deve ouvir o ex-secretário da Fazenda, Giovani Gionédis. A reunião está marcada para as 10h, no plenarinho da Assembléia Legislativa.Esta é a terceira vez que a comissão convoca o ex-secretário.

Situação caótica

Antes de iniciar seu depoimento, Reinhold Stephanes reagiu às faixas portadas por representantes do Sindicato dos Bancários de Curitiba, acusando-o de cumplicidade em fraudes e de ter comandado a privatização do Banestado. Lembrou que assumiu a presidência da instituição em fevereiro de 1999, para administrá-la e conduzir o processo de saneamento acordado com o Banco Central.

A situação que encontrou, segundo ele, era caótica, do ponto de vista administrativo, financeiro e operacional, com um prejuízo diário de mais de R$ 2 milhões só no interbancário a que era obrigado a recorrer para fechar o caixa: ” O banco vinha num histórico de corrupção e irregularidades, com balanços atrasados ou com escrituração irregular”. Disse que foi aconselhado a recusar o cargo porque “o banco não tinha mais solução”. Não obstante, aceitou o convite de Jaime Lerner e garantiu ter feito uma gestão rigorosamente profissional, sem qualquer irregularidade, tanto que quando entregou o posto, o Banestado operava no mercado e apresentava “perspectivas futuras muito boas”.

Observou que o problema das CC5 teve início bem antes de sua gestão, que interrompeu as operações em Foz de Iguaçu, já sob investigação do Banco Central, da Polícia Federal e do Ministério Público. Quanto aos detalhes da privatização, explicou que foram definidos pelo governo do Estado e pela União, através do Banco Central, e foram tratados por comissões externas ao banco. Embora fosse informado sobre as decisões e tivesse representantes da Comissão de Licitação, o Banestado não tinha o poder decisório.

Admitiu que suas relações com o governo estadual eram tensas e chegou a ficar seis meses sem conversar com o governador Jaime Lerner sobre os problemas do banco. Contou que recebeu a visita de um secretário de Estado que não quis nominar, e por meio dele mandou o recado de que “a festa tinha acabado”. Confirmou que o Banco Central mantinha pelo menos oito funcionários acompanhando diuturnamente as atividades do banco, além de outras equipes técnicas.

PF prende Alberto Youssef em Londrina

A prisão do doleiro Alberto Youssef, 36 anos, é o resultado de um longo trabalho de investigação sobre remessa de dinheiro ilegal ao exterior. A informação é do superintendente Regional da Polícia federal no Paraná, Jaber Makul Hanna Saadi, que deu entrevista coletiva à imprensa no final da manhã de ontem.

Yossef foi preso em Londrina, quando saía do Cemitério Parque das Oliveiras, onde foi visitar o túmulo de sua mãe, que morreu há 20 dias. Ele foi abordado no momento em que embarcava em seu veículo Volvo, prata, e recebeu voz de prisão. “A Polícia Federal apenas cumpriu o mandado de prisão preventiva, número 61/2003, expedido pelo Juiz Sérgio Fernando Moro, titular da 2.ª Vara federal Criminal de Curitiba, que apura crimes financeiros”, salientou Saadi. “Há muitos anos, a nossa força-tarefa, trabalha com o CC5/DPF (Conta Contábil Cível de Remessa acompanhadora). Agora começou a dar frutos”, completou.

Segundo Saaid, os policiais federais estavam em Londrina há vários dias, vigiando os possíveis locais onde o doleiro poderia ser localizado.

Ele disse que a prisão de Youssef é uma das primeiras a serem efetuadas, deixando no ar que mais pessoas, nas mesmas condições financeiras do doleiro podem ser presas nos próximos dias. “Esta prisão é só a ponta do iceberg”, comentou.

O superintendente disse que Youssef responde a várias ações na Justiça Federal e já foi preso outras duas vezes, sob a mesma acusação. “O seu modo de agir era recolher dólares nas mãos de “laranjas” e remeter ilegalmente para o exterior”, contou Saadi. Ele enfatizou que o envolvimento do doleiro ficou comprovado em diversos inquéritos policiais que tramitam em Foz do Iguaçu, na denominada “Operação Macuco”, realizada na fronteira pela Polícia Federal.

Saadi preferiu não comentar as outras investigações realizadas pela Polícia Federal em relação ao doleiro. “Nossas investigações são sigilosas. Só depois de finalizadas é que divulgaremos”, afirmou.

O superintendente se limitou a falar sobre o processo que originou a prisão, onde Youssef é acusado de ser um dos principais doleiros envolvidos no esquema Banestado, responsável pela remessa de US$ 30 bilhões para paraísos fiscais, e que participaram outros empresários e políticos. “Não temos muitos detalhes e prefiro não citar valores, pode até ser mais que isso. Tudo está no processo”, resumiu Saadi. (Valéria Biembengut)

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