Sindicatos são suspeitos de pagar manifestantes no Distrito Federal

Sindicalistas de Brasília encontraram uma forma prática de arregimentar manifestantes sem ter de convencê-los dos seus pontos de vista: pagá-los, segundo denúncia publicada pelo site “Consultor Jurídico”. Gastando R$ 40 por cabeça, um grupo pode ser reunido para protestar a favor da liberação dos bingos, fazer número na Marcha dos Trabalhadores ou qualquer outra ação, contra ou a favor qualquer causa, em nome de qualquer partido. De acordo com a reportagem, Bruno Maciel, membro da Nova Central, disse que já fez “diversas vezes” a contratação de 50 a 800 pessoas e foi tudo tranquilo.

Além da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), criada há cerca de quatro anos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh) do Distrito Federal também é suspeita de utilizar o mesmo método de arregimentação. “Quando você vai organizar uma passeata, você contrata pessoas: ‘Eu quero 500, 600.’ Você paga para essa pessoa, porque fica muito caro trazer do País inteiro para se manifestar”, disse ao jornalista uma pessoa que se identificou como Oton, responsável pela comunicação do sindicato.

A contratação dos “militantes” começa em Planaltina, cidade-satélite a 30 quilômetros de Brasília. A suposta “agenciadora de manifestantes”, segundo a reportagem do site, chama-se Sandra Ribeiro. “A Sandra é a pessoa que, toda vez que a gente vai fazer uma manifestação, ela arruma as pessoas. Se você quiser, até 2 mil pessoas ela arruma para você”, disse ao “Consultor Jurídico” Rogério José Cardoso, dirigente da Contratuh. Nas conversas, o jornalista não se identificou como repórter, mas pediu ajuda para organizar uma passeata “Fora, Sarney”, contra o presidente do Senado.

Miséria

É na vizinhança de sua casa em Planaltina que Sandra encontra seus manifestantes. Em uma das zonas mais pobres, de uma cidade miserável do Distrito Federal não é difícil encontrar quem queira protestar por R$ 40 ao dia. Boa parte dos seus vizinhos já participou pelo menos uma vez de manifestações sendo pagos. Procurada ontem, Sandra não foi encontrada. Na reportagem do “Consultor Jurídico”, ela prometia quantas pessoas o interlocutor quisesse, ônibus e coordenadores para organizar as pessoas. Cobrava R$ 350, se tivesse apenas de arregimentar gente, mas o preço subiria se tivesse de preparar camisetas e conseguir um carro de som.

Apesar de ter prestado vários serviços para a Contratuh, procurado ontem, o sindicato negou conhecer Sandra e sua atuação. O presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, disse não conhecer Sandra, mas não negou que a entidade tenha pago manifestantes. Diz que, em Brasília, a Nova Central tem apenas diretores e é “natural o pagamento”. “As pessoas têm de ter alimentação, transporte. É uma diária”, justificou. Segundo ele, “todo mundo faz” e disse ver um complô para desmoralizar a Nova Central.