Senadores atacam tentativa de convocação de Gurgel

A possibilidade de convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para depor na CPI do caso Cachoeira, foi duramente atacada por senadores da oposição e da base aliada. Em um plenário quase vazio, como é comum nas sextas-feiras, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), Pedro Simon (PMDB) e Rodrigo Rollemberg (PSB) criticaram o PT por tentar forçar a convocação do procurador e acusaram o partido de tentar desviar o foco da CPI.

“Trata-se de uma manobra para desviar as atenções do foco principal da CPI e em relação ao julgamento do Mensalão, que se aproxima”, disse Nunes. O tucano defendeu as razões para Gurgel não ter aberto processo contra o senador Demóstenes Torres (sem-partido-GO), e os deputados Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO), envolvidos com o esquema de corrupção montado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.

De acordo com o senador, não havia elementos suficientes para denunciar os envolvidos naquele momento, mas Gurgel não teria arquivado a investigação, e sim esperado para obter mais informações. “Se ele fizesse isso levantaria a lebre. Prudentemente, o procurador-geral da República evitou tomar essa providência. E foi graças a isso que os comparsas de Carlos Cachoeira continuaram suas conversas, o que permitiu o resultado obtido”, afirmou.

Pedro Simon chegou acusar o PT de má-fé por tentar levar para a CPI a investigação do que ele chamou de “inércia do procurador”. ” Parece piada, mas é a verdade. Transformar a CPI do Cachoeira na CPI do procurador-geral é algo que não pode ser levado a sério”, lembrando que um dos antecessores de Gurgel, Geraldo Brindeiro – procurador-geral entre 1995 e 2003 – chegou a ser apelidado de “engavetador-geral da República”, mas nem por isso o PT tentou investigá-lo. “O PT poderia tomar uma providência no âmbito do próprio Ministério Público e deixar a CPI seguir seu caminho”, declarou.

Rodrigo Rollemberg afirmou que é “um erro grave a CPI querer lançar suspeitas sobre a atuação do Procurador”. “O Procurador deve ter autonomia. É importante registrar que o procurador indicado pela presidente da República foi sabatinado e aprovado pelo Senado Federal, que demonstrou, ao aprovar, confiança no seu trabalho”, disse o senador. “Mas ele deve ter autonomia para, tendo conhecimento minucioso e profundo dos elementos da investigação, identificar, definir qual o melhor momento para propor a ação e se deve propor a ação”.

No entanto, o presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que a comissão deve votar na próxima quinta-feira, 17, um pedido para se convocar para depor o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Deputados e senadores do PT e o senador Fernando Collor (PTB-AL) defendem a ida de Gurgel à comissão.

Gurgel já sinalizou que não pretende ir à CPI caso seja convocado. Ele pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ser desobrigado a ir à comissão. O argumento é o de que estaria impedido legalmente de depor como testemunha porque é o acusador contra Cachoeira e os parlamentares no STF.