Roberto Requião expõe racha com petistas

O governador Roberto Requião (PMDB) expôs ontem publicamente seu desconforto com as críticas que vêm recebendo de lideranças estaduais e nacionais do PT sobre algumas medidas que têm adotado no Estado.

Diante do ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, que estava em Curitiba lançando o programa Fome Zero, no auditório do Colégio Bom Jesus, Requião questionou se a posição do presidente estadual do PT, André Vargas, que destoa do governo em relação ao problema do pedágio, e do senador Aloisio Mercadante, que questionou o rompimento de contratos com empresas privadas, refletem o pensamento do PT ou se são individuais. O governador afirmou que não será a “Heloísa Helena” do Paraná, a senadora do PT que foi isolada pelo partido por discordar de pontos da reforma previdenciária.

Requião cobrou coerência do PT e disse que está executando o que prometeu durante a campanha eleitoral. “Afinal de contas, fomos eleitos de forma claramente anti-neoliberal. Agora me vêm falar que devo honrar contratos que são lesivos aos interesses do povo? Todo contrato que for lesivo aos interesses do Paraná eu vou contestar, sim, vou romper, sim, vou anular”, atacou o governador.

E acrescentou: “Ou estávamos errados quando, na campanha, criticávamos a política neoliberal e, logo éramos demagogos. Ou estávamos certos e agora nos acovardamos diante das pressões. Eu não! Eu considerava corretas as críticas que fazia por isso vou prosseguir na defesa dos interesses populares e do Paraná”, argumentou.

Requião disse que quer continuar tendo o PT como aliado, mas não está sendo compreendido pelo partido. “Nós estamos enfrentando todos os problemas com amor e solidariedade. E, pasmem os senhores, parece que isto não está sendo bem entendido em nível nacional. De repente eu vejo o líder do PT no Senado, Aloísio Mercadante, fazer uma crítica à postura do governo do Paraná em relação aos contratos com as multinacionais de energia elétrica. Se nós tivéssemos mantido os contratos da Cien e da El Paso, em março, a Copel estaria quebrada em outubro”, atacou o governador.

Crise

As declarações de Requião explicitaram um conflito que o PT do Paraná vinha tentando abafar. Na reunião do diretório estadual, realizada no final da semana passada em Curitiba, o partido reafirmou apoio ao governo, apesar da tentativa do presidente estadual André Vargas de questionar a relação com o governo Requião.

Vargas vinha irritando o governo com sua atuação na CPI do Pedágio da Assembléia Legislativa. Presidente da CPI, Vargas defendeu que não havia irregularidades nos contratos feitos pelo ex-governador Jaime Lerner (PFL) com as concessionárias do serviço. O presidente do PT também questionou a conversão em desconto por Requião no reajuste de 25,27% nas tarifas de energia determinado pela Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica.

Mas a gota d´água para o governador foram as declarações de Mercadante publicadas no domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo, onde o senador recrimina a anulação de contratos, com o argumento de que as medidas poderiam afugentar investidores. Na solenidade de ontem, o governador disse que achava “estranho” estar sendo criticado por setores do PT, “que se diziam de esquerda”, e informou que vem ganhando a adesão de setores conhecidos como de “direita”.

Ele se referia ao apoio que deverá ser formalizado nos próximos dias de entidades como a Federação da Agricultura do Paraná, Organização das Cooperativas do Paraná e Sociedade Rural do Paraná – setores conhecidos como de direita – para encontrar soluções em conjunto para enfrentar o conflito agrário no Estado.

O momento foi inadequado

Coube ao presidente em exercício da Assembléia Legislativa, deputado estadual Natálio Stica, responder ao desabafo do governador Roberto Requião (PMDB) durante o lançamento do programa Fome Zero. Stica disse que entendia a indignação do governador, mas que o sentimento deveria ser dirigido a alguns dos integrantes do PT e não ao partido.

“Acho que é justa a indignação do governador, mas o momento foi ruim. Acho que estas coisas deveriam ser tratadas numa reunião com a direção do partido e não assim, em público. Eu disse para o governador que o mesmo sopro que apaga a chama de uma vela pode acender uma fogueira”, disse o deputado.

Para Stica, o seminário do PT marcado para o dia 1.º de agosto deve discutir melhor as relações entre o seu partido e o governo. “Há setores descontentes com o estilo do Requião. Ele toma medida sem consultar os aliados. O PT é responsável pela vitória do Requião. E se sente responsável também pelo governo. Nós queremos discutir e não ficarmos apenas como coadjuvantes”, disse.

Vargas se apresenta como aliado crítico do governo

O presidente estadual do PT, deputado estadual André Vargas, divulgou uma nota ontem negando que esteja tentando levar o partido para a oposição ao governo. Na nota, Vargas afirmou que nunca propôs o rompimento do seu partido com o governo e disse que tem direito de discordar de algumas medidas adotadas pelo governador Roberto Requião (PMDB). Vargas classificou como “deselegante” a atitude do governador e disse que o episódio faz parte de uma “polêmica artificial”, criada para desviar o debate de assuntos mais relevantes para a população, como a segurança pública.

O dirigente do PT disse que tem divergências com o governo em algumas áreas, como a questão do pedágio, mas que isso não o transforma em adversário. “Parece até que só tem dois lados nesta questão do pedágio. Ou se está do lado do governo ou das concessionárias. O fato é que sou favorável à redução dos preços das tarifas, assim como o Zé Dirceu (chefe da Casa Civil da Presidência da República), que veio ao Paraná e disse que apoiava a revisão dos contratos e dos modelos de concessão. Eu também penso assim, mas só critico a forma como o governo escolheu tratar do assunto, as suas táticas”, disse.

Vargas afirmou que a sua preocupação, assim como de lideranças nacionais do partido, é com o efeito de algumas ações no processo de atração de investimentos. “Em nenhum momento eu ou lideranças nacionais de meu partido defenderam as concessionárias ou as tarifas do pedágio no Estado do Paraná. Apenas nos preocupamos com o rompimento de contratos legalmente elaborados, em função das repercussões que isto poderá trazer à necessária atração de investimentos para o nosso estado”, comentou.

Vargas reafirmou que não vê irregularidades nos contratos firmados pelo ex-governador Jaime Lerner (PFL) e as concessionárias do pedágio. “Caso a ilegalidade abrupta houvesse, o governo anularia os contratos, como fez com inúmeras ilegalidades cometidas pelo governo anterior. Caso as concessionárias não estivessem cumprindo o contrato, o governo decretaria a caducidade do mesmo, previsão legal para estes casos”, afirmou na nota.

Vargas afirmou que não está sendo orientado pelo PT nacional para dar recados ao governador do Paraná. “Sigo minha consciência e a forma como concebi minha carreira política”, afirmou o deputado. Ele disse ainda que se considera aliado do governo, mas que não tem obrigação de apoiar integralmente todas as iniciativas de Requião.

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