Grampos

Reunião que selou saída da cúpula da Abin foi tensa

Uma reunião tensa no Planalto, com uma trombada entre os ministros Nelson Jobim (Defesa) e o general Jorge Felix (Gabinete de Segurança Institucional) e um desabafo do presidente da República, queixando-se de que grampos atingiram até sua família e seu chefe de gabinete, selou o destino da cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A reunião abriu a agenda do Planalto, na segunda-feira (1º), e levou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), horas depois, a evitar um confronto com o Executivo e, cautelosos, a esperar uma medida concreta do governo antes de endurecer o discurso.

No Planalto, o presidente do STF, Gilmar Mendes, relatou que, sob o comando de Paulo Lacerda, a Polícia Federal vazou dados errados durante a Operação Navalha para, supostamente, prejudicá-lo. Durante as investigações, agentes disseram que Mendes recebia presentes do dono da empreiteira Gautama, Zuleido Veras, pivô do escândalo. Depois, descobriu-se tratar-se de um homônimo.

Desta vez, com Lacerda no comando da Abin, surgiu a denúncia de que Mendes foi grampeado. Ele avisou que o tribunal não aceitaria uma investigação que não desse resultado. Jobim capitaneou as cobranças ao general Felix. Ex-presidente do STF, disse que a Abin está fora de controle – o general tentou pedir tempo para apurar o grampo, mas o clima da reunião já era a favor de uma medida concreta.

Coube a Lula amainar os ânimos e mostrar a Mendes que também estava incomodado com os grampos. O presidente reclamou que um de seus irmãos, Genival Inácio da Silva, o Vavá, teve conversas gravadas pela PF, assim como seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. À tarde, na reunião do Conselho de Ministros do STF, poucos insuflaram para que fosse dada uma resposta dura ao governo, estes capitaneados pelo vice-presidente do tribunal, Cezar Peluso. Ele sugeriu a divulgação de uma nota pública. Mas a maioria dos ministros preferiu aguardar os desdobramentos do caso para então responder ao governo. Defenderam que o Supremo precisava ser “sereno”.

A sugestão foi acatada por todos os ministros, inclusive por Mendes e Peluso, a quem coube redigir a frase divulgada à imprensa que informava que o Supremo havia decidido “aguardar as providências exigidas pela gravidade dos fatos”. Nas entrelinhas argumentavam os ministros, deixavam claro que não aceitariam uma operação abafa e davam o aviso de que providências poderiam ser tomadas se nada fosse feito, a começar pela demissão de Paulo Lacerda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.