Requião toma posse e promete rever contratos

Com um intervalo de oito anos entre o primeiro e o segundo mandatos, o governador Roberto Requião (PMDB) voltou ontem a comandar o Paraná. Requião e o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) foram empossados pouco depois das nove horas na Assembléia Legislativa, pelo presidente da Casa, deputado Hermas Brandão (PSDB).

Após prestar o juramento constitucional de praxe, o governador anunciou que quebraria o protocolo e subiu à tribuna tradicionalmente utilizada pela oposição na Assembléia, onde antecipou o discurso que estava programado para a solenidade de transmissão de cargo no Palácio Iguaçu. Justificou que o lugar adequado para pronunciamentos é o parlamento e que a tribuna da oposição simbolizava que a visão crítica do governo e do país não pode ser esquecida.

Longe do governador Jaime Lerner (PFL), que o aguardava no Palácio Iguaçu, o novo governador do Paraná fez um resumo das principais medidas que pretende adotar no cargo e de forma contundente, bombardeou algumas das ações do seu antecessor, prometendo anular e tornar públicos contratos, reorientar as relações com os servidores públicos, reativar órgãos fechados por Lerner e repetiu o famoso bordão de sua campanha eleitoral: “ou o preço das tarifas de pedágio reduzem-se drasticamente ou o pedágio acaba”.

Combate à pobreza

O novo governador disse que as críticas feitas durante oito anos pelo deputados de oposição na Assembléia haviam se transformado no seu programa de realizações na administração estadual, que terá como eixo central o combate à pobreza e à exclusão social. “Por isso que o nosso governo vai fazer a opção preferencial pelos pobres, combatendo a fome, reincluindo aqueles que o modelo neoliberal expeliu da sociedade. É por isso que o nosso governo vai distribuir leite para as crianças, fornecer água e luz de graça, criar frentes emergenciais de trabalho, desenvolver programas de capacitação profissional, criar programas para garantir a presença dos filhos das famílias mais pobres nas escolas”, afirmou o governador.

O governador também disse que seria tolice polemizar em relação aos dados apresentados por Lerner sobre a situação financeira do Estado, mas criticou duramente o ex-governador. “O Paraná parou durante oito anos. O governo se embriagou nas propostas da globalização e do neoliberalismo. Mas isso foi corrigido pelo voto popular”, comentou. “Tenho consciência das dificuldades que enfrentaremos. Mas, apesar disso, nós continuamos sendo o principal Estado do Sul”. O governador também disse que vai fazer o máximo para cumprir suas propostas de campanha. “O tempo é de muito trabalho. É isso o que o Paraná espera de mim”.

Governo descentralizará investimentos

Elizabete Castro

O governador Roberto Requião prometeu descentralizar investimentos industriais – numa crítica direta à concentração de empresas na Região Metropolitana de Curitiba durante a gestão de Lerner – democratizar os incentivos para a implantação de novas indústrias e resgatar programas de estímulo à agricultura. “As pessoas têm que viver bem e ser felizes, onde nasceram e foram criadas (…)O emprego, a saúde, a educação e a segurança, o desenvolvimento pessoal, a realização de sonhos devem ir ao encontro das pessoas lá onde elas escolheram viver”.

A preocupação com a segurança foi um capítulo à parte no discurso do governador. Requião justificou que nos primeiros meses irá acumular a secretaria de Segurança para realizar o que chamou de duas tarefas inadiáveis: “Primeiro, limpar a polícia, extirpar sua banda podre, promovendo e valorizando os bons policiais. Paralelamente, implantar uma nova política de segurança, trazendo de volta a polícia aos bairros, às ruas, à porta das casas e das escolas, integrando-a com a população. O Paraná, tenho certeza, vai ser novamente um estado seguro, tranquilo e as famílias serão libertadas do medo”.

Transparência

O novo governador ressaltou um aspecto que lhe é caro: a transparência na administração pública. Disse que vai revelar para a população os detalhes dos contratos de concessões e protocolos e romper acordos feitos por Lerner. Requião citou especificamente o pacto de acionista feito entre a Sanepar e seus sócios privados. “Entre as tantas distorções deste pacto, uma delas me deixa especialmente estarrecido: a que define como objetivo da Sanepar a maximização dos lucros de seus acionistas”, atacou.

Requião disse que é inadmissível este conceito de serviço público. “Esta concepção de serviço público vai ser anulada, junto com o pacto, em nosso governo”, disse. Sobre os contratos com as concessionárais de pedágio, reforçou o que disse durante toda a campanha eleitoral. “O abuso vai ter fim. Não se trata de uma posição populista ou vezo doutrinário e sim do simples fato de que a economia paranaense não suporta o abuso das tarifas”, afirmou.

Lerner é vaiado na saída

Aurélio Munhoz

O ex-governador Jaime Lerner (PFL) não escapou de um constrangimento ontem, ao entregar o cargo a Roberto Requião. Ele deixou o Palácio Iguaçu, acompanhado de sua esposa, Fani Lerner, em meios a vaias e críticas feitas por militantes do PT, PMDB e outros partidos de esquerda. O pefelista, porém, ignorou as manifestações. “Eu fico feliz de ter entregue o cargo nas condições em que o Paraná está”, disse.

No seu discurso final, Lerner disse que deixa o cargo colocando o Estado em melhores condições que as existentes em 1998. “O Paraná é mais sólido, mais rico, mais dinâmico e mais esperançoso do que há oito anos. Certamente, também não é, em tudo, do jeito que sonhamos. Mas é, em muitos aspectos, muito mais do que podíamos supor”, disse.

O ex-governador afirmou que conseguiu transformar o Paraná em um “pólo automotivo importante”. “No futuro, quando os estudiosos se voltarem para este período da história do Paraná, certamente a industrialização aparecerá com grande destaque”, afirmou.

Lerner também destacou o que considerou avanços na área social e sua política fiscal. “O último documento da Secretaria do Tesouro Nacional só confirma que entrego ao povo do Paraná as melhores notas no esforço de reestruturação e ajuste fiscal do Paraná”, disse o pefelista, que acabou sendo vaiado depois desta declaração. O ex-governador disse ainda que respeita Requião, embora ambos sejam adversários políticos há 30 anos, e desejou sucesso ao novo governador. “Ambos concordamos naquilo que é essencial ao futuro do Paraná, que é promover cada vez mais o avanço e a solidariedade”, disse Lerner.

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