Quase um terço da Câmara de São Paulo trocou de partido

Com a proximidade das eleições e o fim da janela partidária, novas composições se formam na Câmara Municipal de São Paulo. Por enquanto, 15 vereadores trocaram de partido. O número, que ainda pode aumentar, já representa 27% do quadro total, que é de 55 parlamentares.

A maioria das trocas ocorre entre legendas consideradas menores, mas com facilidade de compor tanto com o governo como com a oposição, independentemente do desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ou mesmo da eleição para a Prefeitura, em outubro. É o caso, por exemplo, de PR, PDT, PP, PRB e PTB.

Em São Paulo, especificamente, essas legendas, aliadas a outras, como o DEM, ainda têm capacidade para resgatar o “centrão”, bloco suprapartidário que comandou a Casa durante parte das gestões dos prefeitos José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD). A indefinição política atual do País, segundo especialistas, facilita esse tipo de organização.

“Com a crise nacional, todo mundo está fazendo as contas e escolhendo acomodações mais favoráveis para a reeleição. Isso sempre ocorreu, mas nunca nessa proporção”, diz Gilberto Natalini (PV), ex-tucano, que cumpre seu quarto mandato na Casa. “O centrão nunca acabou, só se desorganizou.”

PT e PMDB mantiveram todos seus parlamentares na capital – dez e quatro, respectivamente. O PSDB, na contramão, perdeu dois: Andrea Matarazzo e Aníbal de Freitas.

Das 15 trocas, apenas duas ainda não foram concretizadas. Nem Matarazzo nem David Soares divulgaram seus futuros políticos – a data-limite é 2 de abril. A expectativa é de que o ex-tucano possa se filiar ao PSD, de Gilberto Kassab, e ser lançado por ele candidato a prefeito. “Ainda não defini nada”, despistou Matarazzo na última quarta-feira. Já Soares, que saiu do PSD, deve compor a bancada do DEM, que já ganhou Dalton Silvano, recém-saído do PV.

Baixas

No troca-troca partidário, o PSD foi a legenda mais prejudicada, com três baixas. Além de Soares, deixaram o partido Souza Santos, agora no PRB, e Ushitaro Kamia, que seguiu para o PDT. Na contramão, o PR, com Celso Jatene (que deixa o PTB e o comando da Secretaria Municipal de Esportes para voltar à Câmara) e Noemi Nonato, e o PDT, com Kamia e Wadih Mutran, ganharam dois representantes cada.

“Vereador tem de ter liberdade de acertar e errar. Se a legenda é usada apenas para um projeto eleitoral é melhor ir embora mesmo. Queremos representantes com identificação com o PSD”, diz José Police Neto, líder da legenda na Câmara.

Para o vereador Mario Covas Neto, presidente do diretório municipal do PSDB, as perdas do partido são prejudiciais. “Tanto o Matarazzo como o Aníbal vão fazer falta, é claro. Lamento muito a saída dos dois e não concordo, mas é direito deles. Apesar disso, o partido vai vir forte nessa eleição. Vamos ter outros nomes que puxam votos”, diz.

Ideologia

Líder do governo de Fernando Haddad (PT) na Câmara, o vereador Arselino Tatto (PT) afirma que nenhum dos dez integrantes da bancada petista cogitou deixar o partido. “Nossa bancada é firme ideologicamente. Trabalhamos pelos projetos bons para a cidade”, afirma.

Tatto considera que as mudanças favorecem a base aliada de Haddad para este fim de mandato. Muitos dos partidos que cresceram nesta janela partidária costumam votar com o governo, caso do PR, PP e PDT. “É bom lembrar ainda que a composição aqui em São Paulo é diferente da de Brasília”, diz o parlamentar, que tenta desvincular o PT municipal do nacional.

Já os integrantes do PMDB calculam que poderão ampliar sua bancada com a candidatura da senadora Marta Suplicy pelo partido.

Para lembrar

Netinho de Paula foi o único vereador de São Paulo a ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral por infidelidade partidária após trocar de legenda, em novembro do ano passado. O PCdoB conseguiu reaver a cadeira dele na Câmara Municipal depois que o parlamentar deixou a legenda para se filiar ao PDT.

Em função da janela partidária aberta por causa das eleições municipais deste ano, nenhum representante da Casa que mudou de partido corre esse risco atualmente.