PSDB discute punição para os infiéis

Em reunião marcada para amanhã, dia 7, em Curitiba, a executiva estadual do PSDB começa a examinar a possibilidade de abrir um processo de expulsão do líder da bancada estadual do partido, Luiz Nishimori, porta-voz do grupo que desafia a orientação tucana de atuar como oposição ao governo.

Apesar de não haver consenso na executiva sobre o caso, o primeiro passo é aprovar uma resolução estabelecendo a punição para os deputados que continuam acompanhando a base de apoio ao governo na Assembléia Legislativa.

Nishimori, Luiz Accorsi e Francisco Buhrer – Rui Hara tem posição mais oscilante – mantiveram-se alinhados ao Palácio Iguaçu, mesmo depois de a executiva ameaçar com retaliações. Os três justificam que estiveram na campanha à reeleição do governador Roberto Requião (PMDB) no ano passado, quando o PSDB rachou no Paraná. O grupo liderado pelo atual conselheiro do Tribunal de Contas, Hermas Brandão, apoiou o governador. Rossoni e o prefeito de Curitiba, Beto Richa, entraram na campanha do senador Osmar Dias (PDT).

Além da punição partidária, os tucanos também vão aprovar uma segunda resolução dificultando os acordos eleitorais para os aliados do Palácio Iguaçu, no partido. A resolução irá estabelecer que, nos municípios onde não houver candidato do partido, todo e qualquer acordo eleitoral será submetido ao crivo do diretório estadual. Esta resolução é resultado de um acordo prévio com o diretório nacional.

O presidente do diretório estadual, deputado estadual Valdir Rossoni, disse que as consultas prévias ao diretório estadual foram estabelecidas para evitar que o partido se transforme em força auxiliar, nos municípios, de outras siglas. É, na prática, uma forma de impedir que nas bases eleitorais dos deputados alinhados ao governo, o PSDB deixe de lançar candidatos para atender a interesses externos. ?Queremos ter todo o cuidado para que o partido não se torne auxiliar ao poder local. Não vamos dar espaço para quem não seguir a linha do partido?, explicou.

Mapa

O diretório estadual já começou a receber as primeiras informações dos diretórios municipais sobre as opções de candidaturas que cada cidade dispõe para lançar na disputa eleitoral do próximo ano. Os diretórios municipais estão apresentando as listas de nomes para concorrer à prefeitura e às câmaras municipais nas eleições do ano que vem.

?Não vamos olhar só o interesse do deputado. Se o candidato a prefeito estiver disposto a concorrer pelo PSDB, terá prioridade?, afirmou o dirigente tucano.

Dilema tucano: ser ou não ser oposição

Foto: Anderson Tozato

FHC: preocupado com a falta de vocação para oposição.

O desconforto do deputado estadual Luiz Nishimori em assumir o papel de oposição não é um fato isolado do PSDB do Paraná. Na realidade, se há algo que marca o partido neste início de segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a ambiguidade. A ponto de o governador de Minas, Aécio Neves, se desdobrar em elogios ao presidente – que é de um partido que sempre se opôs aos tucanos – e o governador de São Paulo, José Serra, anunciar que oposição não é assunto para os governadores.

Este quadro está deixando pelo menos um personagem com os cabelos arrepiados: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi fustigado durante oito anos pelas fileiras petistas e exige que o seu partido faça pelo menos o que o PT lhe fez quando esteve na presidência: oposição. Único tucano ilustre a sair a campo para criticar o presidente Lula e seu governo, FHC preparou um novo petardo e desta vez destinado a seus camaradas.

O ex-presidente gravou uma fita de 23 minutos em que prega a unidade tucana e pede aos tucanos que exerçam o papel que lhes foi confiado pelos eleitores, que é o de fazer oposição ao governo Lula. A fita de FHC será divulgada nesta terça-feira e será veiculada na internet, por meio do portal do PSDB. A intenção do ex-presidente é que ela funcione como uma espécie de partida para uma série de eventos destinados a preparar o congresso do partido, no final de setembro, quando então será aprovado um novo programa da legenda.

O certo é que FHC está preocupado com a predominância de projetos pessoais sobre o projeto do partido. A sua preocupação, anunciada em particular para quem quiser ouvir, destina-se aos dois tucanos que desejam disputar a presidência em 2010, na sucessão do presidente Lula: Aécio Neves e José Serra. Enquanto os dois se preocupam em amaciar o caminho que possam conduzi-los ao Palácio do Planalto, o presidente do partido, senador Tasso Jereissati, faz peregrinação ao gabinete do presidente para anunciar um relacionamento cordial.

A pregação de FHC chega num instante em que Lula, aproveitando-se da divisão interna do PSDB, intensifica o diálogo com o naco do tucanato que se dispõe a conversar. Os movimentos de Lula exercem sobre o tucanato um efeito nocivo. Aos olhos do eleitorado, o PSDB vai-se tornando um partido sem rosto. Ou, por outra, uma legenda de duas caras. Na disputa pela presidência da Câmara, simulou apoio a Gustavo Fruet (PSDB-PR) e despejou votos em Arlindo Chinaglia (PT-SP).

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