Polícia encontra cheque de Janene com Youssef

Ao prendê-lo no último domingo, em Londrina, a Polícia Federal encontrou com Alberto Youssef – um dos principais doleiros acusados de envolvimento no esquema Banestado e considerado um dos principais responsáveis pela remessa ilegal de dinheiro para paraísos fiscais através de contas CC5 – um cheque nominal ao deputado federal José Janene, ex-presidente do PP no Paraná, e outro ao Sindicato dos Policiais Federais do Paraná.

De acordo com o advogado João Gomes Filho, Youssef estava com o cheque para entregar a uma terceira pessoa. “Eles não têm nenhuma relação, o cheque não tem nada a ver com o Alberto, e estava com ele apenas para ser entregue a alguém”, disse.

De acordo com matéria publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, um seria de R$ 150 mil, do Bradesco, assinado pelo advogado Vandocir José dos Santos, nominal a José Janene, com data de 2003. No verso do cheque, anotado à mão, o advogado informava ao doleiro que ele se referia a “caução pela equivalência de US$ 80 mil”. O deputado não foi encontrado pela reportagem de O Estado para comentar o caso.

Ainda segundo a Folha, Vandocir dos Santos sofre ação na Justiça por crime de sonegação fiscal. Ele teria deixado de declarar imposto de renda nos últimos cinco anos. “O Vandocir é um advogado honrado em Londrina. Quando conversei com o Alberto, na quarta-feira, tratamos apenas do interrogatório. Mas sei que o cheque não tem nada a ver com ele, estava com o Alberto apenas para ser entregue para alguém. Ele não sabe de nada com relação ao Janene, o negócio não foi feito com o Alberto. Além disso, só a presença do cheque não tipifica crime algum”, afirmou João Gomes Filho.

O outro cheque, de R$ 5 mil, do Banco de Crédito Nacional, emitido pela empresa do doleiro, a Youssef Câmbio e Turismo, era nominal ao Sindicato dos Policiais Federais, datado de 29 de julho de 2003. O dinheiro seria usado para a impressão da cartilha ?O Brasileirinho?, um projeto para prevenção às drogas nas escolas. O presidente do sindicato, Naziaveno Florentino, também não foi encontrado. Segundo o sindicato, ele está viajando.

“Desde 1997 Alberto é colaborador de projetos contra drogas. Ele tem um sobrinho, Maurício, que é dependente químico, e já foi internado por uso de drogas. Por isso ele é apaixonado pelo combate ao narcotráfico”, explicou o advogado. “Ele é vítima do problema dentro da família, por isso até hoje contribui com programas, inclusive com a cartilha”, acrescentou.

Alberto Youssef foi detido quando visitava o túmulo da mãe, no Cemitério Parque das Oliveiras, em Londrina, em cumprimento ao mandado de prisão preventiva número 61/2003, expedido pelo juiz Sérgio Fernando Moro, titular da 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que apura crimes financeiros. O doleiro chegou à capital na segunda-feira, e está preso na sede da Polícia Federal. Na quarta-feira ele foi levado para depor na Justiça Federal, mas se reservou o direito de não falar, alegando não ter conhecimento do processo. Um novo depoimento foi marcado para a próxima quinta-feira, dia 13.

Notificação chega à PF

Somente ontem a Polícia Federal, em Brasília, recebeu a notificação da 2.ª Vara Federal Criminal, de Curitiba, determinando a realização da exumação do corpo do ex-secretário de Esportes e ex-presidente da Banestado Leasing, Osvaldo Magalhães dos Santos. Por meio da assessoria de comunicação, o presidente do Instituto Nacional de Criminalística, Octávio Brandão, informou que irá tomar conhecimento dos detalhes do caso para depois decidir sobre a data da exumação, o que deverá ocorrer somente na próxima semana. Os trabalhos oficiais da CPI serão encerrados no dia 17.

Por decisão do juiz da 2.ª Vara, Sérgio Moro, a Polícia Federal em Brasília fica responsável pela exumação do cadáver e a realização do exame de DNA. O trabalho será feito pelo instituto Nacional de Criminalística, órgão da Polícia Federal. Conforme o presidente do Instituto, é necessário saber pormenores do processo antes de definir o tipo de perito que irá designar para o caso.

A exumação e o exame de DNA foram solicitados pela CPI do Banestado, que apura denúncias de irregularidades na Leasing, durante a gestão de Osvaldo Magalhães dos Santos. A CPI levantou suspeitas sobre a morte do ex-secretário, quando encontrou falhas nos procedimentos de identificação do corpo pelo Instituto Médico-Legal de Curitiba. O ex-secretário foi dado como morto em acidente de trânsito ocorrido em 98, quando seu veículo Omega se chocou com um caminhão na rodovia que liga o município de Palmeira a Curitiba.

Impasse

A exumação do corpo do ex-secretário dividiu a Assembléia Legislativa. O presidente da Casa, Hermas Brandão (PSDB), recusa-se a pagar os procedimentos necessários à identificação, alegando que não há orçamento para essa finalidade e que tenta se prevenir contra uma eventual ação indenizatória por parte da família do ex-secretário.

Ontem, entretanto, o 1.º secretário da Assembléia, deputado Nereu Moura (PMDB), afirmou que os custos devem ser bancados pelo Legislativo. “Quando a CPI está fazendo um trabalho sério, para sanar dúvidas, não podemos deixar que isso fique pela metade. A Assembléia tem que pagar”, afirmou. (Elizabete Castro)

Obrigado a depor à CPI

Em resposta a requerimento da CPI do Banestado na Assembléia Legislativa, o juiz Sérgio Fernando Moro, da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, determinou que o ex-secretário da Fazenda Giovani Gionédis compareça à audiência pública marcada para terça-feira (11), às 10 horas, no plenarinho da Casa. O juiz também determinou a expedição de mandado para condução coercitiva.

A comissão decidiu recorrer à Justiça em função das dificuldades encontradas para a convocação do ex-secretário, que alegou não ter sido intimado regularmente.

Para o juiz Sérgio Moro, “em que pese tal alegação, é notório que vem a CPI tentando, sem sucesso, a oitiva de Giovani Gionédis. Referida pessoa teria inclusive se ausentado em audiência na qual seria ouvida. Outrossim houve divulgação jornalística das datas e horários designados para a oitiva, bastando boa vontade para o comparecimento, ainda que tenha havido alguma irregularidade na intimação. Tendo a CPI poderes próprios de investigação, sua convocação não pode ser ignorada, não cabendo à testemunha escolher se atende ou não”.

Destaca ainda o juiz: “Mesmo no caso de pessoa investigada, se é que é este o caso, o direito que lhe cabe é ao silêncio diante de perguntas cujas respostas possam levar à auto-incriminação, mas não a ausência. Outrossim, concordando ou não Giovani Gionédis com a CPI ou mesmo havendo ou não alguma animosidade pessoal em relação aos seus membros, o respeito devido à Assembléia Legislativa impõe o comparecimento, máxime em se tratando de pessoa que já exerceu relevante cargo público.

Na conclusão de seu despacho, Moro determinou que antes da expedição fosse encaminhado, via fax, cópia de sua decisão ao escritório de Giovani Gionédis, dando-lhe a possibilidade de evitar o constrangimento da condução coercitiva, “o que seria pouco apropriado para um ex-secretário da Fazenda”. Para isto, Gionédis tinha prazo até as 15h de ontem para subscrever e encaminhar à 2.ª Vara Criminal Federal um termo de compromisso de comparecimento na audiência de terça-feira da CPI do Banestado.

Voltar ao topo