Lucimar do Carmo / GPP
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Avaliação de Jorge Samek sobre o governo Lula: "tá ruim, mas tá bom".

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Reunidos em dois locais diferentes – Hotéis Bourbon e Caravelle – os petistas do Paraná discutiram ontem em Curitiba os rumos do partido no estado e no país. No Hotel Bourbon, onde foi realizada o encontro da tendência Unidade na Luta, o discurso foi pela defesa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e principalmente da política econômica, que foi justamente o ponto mais questionado do governo petista no encontro do grupo que se aglutinou no Hotel Caravelle.

Para os integrantes da Unidade na Luta, a corrente majoritária do partido que controla os diretórios nacional e estadual, o momento é de ?blindar? o governo Lula contra os bombardeios externos e interno. ?Todos os indicadores, sem exceção, são os melhores dos últimos dez anos. Temos crescimento econômico que traz geração de empregos. A relação dívida e PIB (Produto Interno Bruto) é a melhor da década. É o que mostra o balanço do Banco Central. Que política econômica é essa que tanto o nosso partido como os outros criticam??, disse o diretor-geral da Usina de Itaipu, Jorge Samek, pré-candidato do PT ao governo em 2006. ?Nós estamos hoje naquela situação. Tá ruim, mas tá bom?, comentou Samek, dizendo que são inegáveis os avanços econômicos e sociais do governo Lula.

No encontro do Hotel Caravelle, a visão foi outra. Os deputados estadual Tadeu Veneri, a deputada federal Clair Martins, o deputado federal carioca, Antonio Carlos Biscaia e o petista histórico, Plínio da Arruda Sampaio, não perdoam os rumos da política econômica. ?O governo Lula é um avanço, mas será que essa política econômica é a única alternativa que temos??, afirmou Clair.

Já Biscaia avaliou que além de fazer correções na política econômica, o governo também tem que estabelecer um limite na forma como se relaciona com as forças conservadoras que integram a coalizão. O deputado carioca criticou o fisiologismo que cerca algumas dessas composições e disse que o PT deve defender o governo Lula, mas sem perder a visão crítica. Para Veneri, o momento é de apreensão. O deputado avalia que já se passaram dois anos de governo e até agora o que se viu foi muito diferente do que o PT propunha. ?Nós tivemos vinte e três anos de oposição e dois anos de governo. A preocupação é se nos próximos dois anos nós vamos resgatar o projeto que sempre defendemos?, disse.

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Para a deputada Selma Schöns, o que falta é o governo ouvir a militância do PT. ?Nós não podemos confundir o partido e o governo. O Lula governa com uma coalizão para todos os brasileiros, mas a militância precisa estar presente nas discussões?, avaliou.

A Unidade na Luta iria aprovar ao final do encontro um documento sinalizando que a tendência está unida em torno da reeleição do presidente estadual do PT, André Vargas, no processo de renovação dos diretórios que será realizado em âmbito nacional, estadual e municipal.

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A relação com o governo estadual seria debatida à tarde. O ex-líder do governo, deputado Natálio Stica, disse que a corrente deve reforçar a tese da independência do governo Requião. O documento assinado pela coordenação estadual da tendência distribuído para a discussão interna apontava para o lançamento de um candidato próprio na sucessão estadual.

Política econômica não tem defesa

 Um dos fundadores do PT e atualmente presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, o advogado Plínio de Arruda Sampaio, disse que a postura do setor do partido que defende a política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a mesma que adotava o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, no regime militar. ?O Brasil vai bem, mas o povo brasileiro vai mal. Era a postura do Médici?, comparou. Plínio de Arruda Sampaio foi um dos convidados do Seminário 25 anos do PT, Rumos e Perspectivas, realizada pelo grupo de deputado federais e estaduais do PT menos afinados com o governo federal, no auditório do Hotel Caravelle.

Ao contrário do filho, o economista Plínio de Arruda Sampaio Junior, que deixou o PT no início do ano, Plínio pai continua acreditando que o partido pode reencontrar sua razão de ser. ?Tem que voltar a ser socialista. É sua origem, sua justificativa e sua razão de ser?, disse Plínio..

Para o advogado, o PT se construiu com a proposta de mudar a sociedade brasileira, mas se transformou no que chamou de ?um partido da ordem estabelecida. Um caráter que foi adquirindo ao longo dos últimos anos, mas que se tornou explícito no momento em que Lula foi eleito para a presidência da República, avaliou Plínio. Para o advogado, a face mais visível do partido da ordem estabelecida é a política econômica. ?O governo está dando continuidade à política de Fernando Henrique Cardoso. A única diferença é de matizes?, afirmou.

Patrimônio

O que está em jogo no governo Lula, na visão de Plínio de Arruda Sampaio, é o patrimônio histórico do PT. ?O PT foi um avanço extremamente importante na história política do país. Foi a primeira cabeça de ponte que a massa popular conseguiu introduzir no território exclusivo das elites. Esse patrimônio não pode ser perdido?, afirmou. O caminho apontado por ele é ?a firmeza de posições, um trabalho de base e a pressão popular?. Plínio deixou o Conselho de Política Alimentar, um cargo de confiança de Lula, por se sentir desconfortável diante da condução do governo.

O encontro também teve a participação do jornalista Raimundo Pereira, que fez uma avaliação histórica da trajetório do país e do PT. Para o jornalista, o Brasil vive o momento de ser repensado. ?É hora de uma reflexão ampla?, defendeu o jornalista que fez várias críticas ao governo, entre elas, citou ?a falta de coragem do governo Lula para abrir os arquivos militares.? (EC)