A paralisia do PSDB desde outubro, quando registrou seu pior desempenho em uma eleição presidencial e viu sua bancada cair de 54 para 29 deputados, abriu caminho para o governador João Doria assumir o comando de fato da sigla e falar em nome dos tucanos sem ser contestado. Em vez do ex-governador Geraldo Alckmin, que é presidente nacional do PSDB, foi Doria quem anunciou ontem, em São Paulo, o apoio do partido à reeleição do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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Doria e Maia se encontraram no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, dois dias após o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, fechar com a candidatura do deputado do DEM. Oficialmente, a visita foi de cortesia.

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Antes disso, Doria já tinha se antecipado à máquina partidária ao dizer que o PSDB vai apoiar o governo Bolsonaro. Vários quadros tucanos foram incorporados ao segundo escalão do governo federal à revelia da direção executiva da legenda.

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Em discursos, Doria tem feito críticas abertas ao PSDB e defendido a “reestruturação” do partido. O governador até lançou o deputado Bruno Araújo (PE), um nome de sua confiança, à presidência do partido na convenção marcada para maio. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Araújo defendeu uma guinada conservadora no PSDB, tese que é rechaçada pelos fundadores do partido.

“Há uma paralisia do partido, que entrou em choque após o desastre eleitoral e ainda não saiu. Mas isso não dá ao Doria o direito de se colocar como um führer”, disse o ex-governador Alberto Goldman, que integra a executiva nacional do PSDB.

Aliado de Doria e futuro presidente do PSDB paulista, o deputado Marco Vinholi saiu em defesa do governador. “João Doria é a principal expressão do partido. Sobre Goldman, defendemos que o processo de expulsão dele do PSDB seja célere”, disse o tucano. O ex-governador paulista é alvo de um processo interno de expulsão do PSDB feito a pedido pelo grupo de Doria. Ele se filiou à legenda nos anos 1990. Doria é um dos fundadores da sigla.

Fora de cena

Com mandato até maio à frente do PSDB, Alckmin submergiu desde o primeiro turno da eleição passada. Sua última manifestação pública foi uma postagem nas redes sociais no dia 29 de outubro, na qual criticou Bolsonaro. O ex-governador tucano condenou os “ataques” feitos pelo então presidente eleito ao jornal Folha de S.Paulo, o que considerou um “acinte a toda a imprensa”.

Aliados e ex-auxiliares dizem que tem sido difícil falar com o ex-governador, que não possui mais assessoria. Recluso em seu sítio em Pindamonhangaba (SP), Alckmin não se manifestou sobre os movimentos de tucanos que aderiram ao novo governo. Reservadamente, correligionários dizem que o ex-governador reprova a ida de integrantes do PSDB para a administração Bolsonaro, mas não tem feito movimentos ostensivos para evitar que isso aconteça.

O último encontro da executiva do PSDB ocorreu há quase três meses, durante reunião do diretório nacional do PSDB, em Brasília, no dia 9 de outubro. O encontro acabou servindo para uma lavagem de roupa suja. Durante uma discussão, Alckmin insinuou que Doria era “traidor”.

Em um movimento para ampliar sua influência no PSDB, o governador paulista se aproximou e conseguiu o apoio dos outros dois chefes de Executivos estaduais tucanos, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Reinaldo Azambuja, que foi reeleito em Mato Grosso do Sul.

O governador paulista também enfraqueceu seus adversários internos ao levar para o governo o ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, que será presidente do InvestSP.

Fragilizada, a ala contrária à ascensão de Doria no comando do partido ainda não conseguiu lançar um nome para disputar a presidência do PSDB na convenção de maio.

Derrotado nas urnas, o próprio Alckmin desistiu de tentar a reeleição. Um dos nomes sondado para representar a ala dos “cabeças brancas” foi o senador Antonio Anastasia (MG), mas ele declinou da proposta. Há ainda a possibilidade de o senador Cássio Cunha Lima (PB) ser lançado, mas a avaliação majoritária no PSDB é de que Bruno Araújo, o escolhido de Doria, é hoje o franco favorito.

Além dele, Doria deve reformatar a executiva e dar espaços a aliados afinados com seu projeto de disputar o Palácio do Planalto em 2022.

Reformulação

A convenção em maio será sucedida por um congresso que vai reformular o estatuto e o programa do partido. Outros críticos silenciosos do atual governador paulista devem seguir o mesmo caminho.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, crítico a Bolsonaro, admitiu, numa entrevista recente à revista Veja, que pode deixar o PSDB se o partido virar uma “sublegenda do governo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.