Ao mandar prender o ex-vice-presidente da Engevix Gérson de Mello Almada, após condenação em segunda instância, o juiz federal Sérgio Moro disse que eventual alteração no entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema seria “desastrosa”. Para ele, a jurisprudência estabelecida pela Corte em 2016 – pela execução de pena após decisão de segundo grau judicial – “é fundamental, pois acaba com o faz de conta das ações penais que nunca terminam”.

continua após a publicidade

Moro também citou ministros do STF que podem votar contra a execução de pena para condenados em segunda instância. “Espera-se que a jurisprudência que nos permitiu avançar tanto e que é legado do ministro Teori Zavascki não seja revista, máxime por uma Corte com o prestígio do Supremo Tribunal Federal e por renomados ministros como Rosa Weber, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski.”

continua após a publicidade

O Supremo tem sido pressionado a colocar novamente em pauta a prisão em segunda instância – alguns ministros da Corte já indicaram que podem rever seus posicionamentos. A manifestação de Moro ao mandar prender Almada, dada nesta segunda-feira, 19, diz que existem “rumores” sobre possível mudança na jurisprudência do plenário do STF, “mas nenhuma decisão colegiada foi tomada nesse sentido.”

continua após a publicidade

“Eventual alteração seria desastrosa para os avanços havidos recentemente em prol do fim da impunidade da grande corrupção no Brasil”, afirmou.

A sentença de Moro relativa ao ex-vice-presidente da Engevix foi reformada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que aplicou, em junho do ano passado, 34 anos e 20 dias ao ex-executivo por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e pertinência à organização criminosa. Almada foi acusado de pagar propina de R$ 15.247.430 no esquema na Petrobrás.

Na decisão desta segunda, Moro afirmou que eventual alteração no entendimento do STF “colocaria em liberdade” não só Almada, mas “vários criminosos poderosos condenados”.

Defesa

O criminalista Antônio Sérgio Pitombo disse que Gérson Almada vai se apresentar à Justiça. “Vamos discutir essa questão nos tribunais superiores”, afirmou Pitombo, que vai entrar com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Não é apenas a discussão se pode ou não pode a execução da pena, mas a absoluta falta de critério legal para fixação da pena.”

A Engevix informou que Almada “já se desligou da empresa”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.