Combate ao crime

Polícia Federal faz hoje cinco vezes mais operações que há 10 anos. Moro quer mais

Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo

Em dez anos, o número de operações da Polícia Federal deflagradas no Brasil aumentou 338%. Passou de 236 em 2009 para 1.033 ação policiais no ano passado. No período, policiais federais de todo o país foram às ruas 5.437 vezes, segundo dados da corporação. O maior número de operações deflagradas foi relacionado ao combate ao tráfico de drogas, que passou de 67 operações em 2009 para 233 no ano passado – alta de 248%.

Em 2019, se depender do novo ministro da Justiça, o ex-juiz federal Sergio Moro, o número deve aumentar ainda mais. O ministro prometeu, já na posse, tornar o combate ao crime organizado – incluindo aí o tráfico de drogas – um de seus principais objetivos à frente da pasta, a quem a PF está subordinada.

Na semana passada, a Polícia Federal em Tocantins deu uma mostra do que vem pela frente. A operação Flak levou 28 pessoas à prisão, acusados de tráfico internacional de entorpecentes. A Justiça Federal ainda autorizou a apreensão de 47 aeronaves, o sequestro de 13 fazendas com mais de 10 mil cabeças de gado bovino e o bloqueio de contas bancárias de 100 pessoas e empresas envolvidas no esquema. Segundo a investigação, a quadrilha transportou mais de nove toneladas de cocaína entre 2017 e 2018.

A própria operação Lava Jato começou com um braço de investigação do tráfico de drogas. Um dos doleiros presos nas primeiras fases, Carlos Habib Chater, era dono de um posto de combustíveis em Brasília onde políticos recebiam dinheiro em espécie como pagamento de propina, segundo delatores. As contas do posto foram usadas para pagamento de carregamentos de cocaína, que vinha da Bolívia e do Peru.

Esse foi, inclusive, o primeiro processo da Lava Jato que o então juiz Sergio Moro sentenciou. Acusado de lavar dinheiro do tráfico, o doleiro Alberto Youssef foi absolvido por Moro. O ex-juiz condenou René Luiz Pereira, Carlos Chater e André Catão de Miranda por tráfico de drogas e evasão de divisas.

Delegacias especializadas

Depois do combate ao tráfico, os crimes fazendários foram os que mais geraram operações nos últimos 10 ano – foram mil, ao todo. Em terceiro lugar, aparece o Serviço de Repressão ao Desvio de Recursos Públicos (SRDP), com 746 operações em 10 anos.

Nos últimos 10 anos, todas as áreas de atribuição da Polícia Federal tiveram uma variação de pelo menos 100% no número de operações deflagradas. O maior aumento foi em operações comandadas por delegacias que tratam de Assuntos Sociais e Políticos (DASP). Em 2009, foi deflagrada apenas uma operação relacionada ao tema. Já em 2018, foram 45.

Operações da PF chegaram ao ex-governador do Paraná, Beto Richa, que já esteve preso por duas vezes. Foto: Lineu Filho/Arquivo/Tribuna do Paraná
Operações da PF chegaram ao ex-governador do Paraná, Beto Richa, que já esteve preso por duas vezes. Foto: Lineu Filho/Arquivo/Tribuna do Paraná

A segunda maior variação foi no campo dos crimes cibernéticos. A área passou de seis operações deflagradas em 2009 para 73 no ano passado – uma variação de mais de 1.000%.

Crimes relacionados ao meio ambiente e patrimônio histórico também passaram a ganhar maior atenção da PF ao longo dos últimos 10 anos. E 2009, foram deflagradas apenas nove operações em todo o Brasil para combater esse tipo de crime. Em 2018, foram 73 – uma variação de 711%.

A área com menor variação, de 100% em dez anos, foi de investigação de crimes contra os direitos humanos. Foram 12 operações em 2009 e 24 em 2018.

O impacto da Lava Jato

Desde 2014, ano em que a Lava Jato teve início, o número de operações realizadas cresce na casa dos 30% ao ano – com exceção de 2018, ano em que foram deflagradas 14% menos operações no Brasil em relação a 2017. Em 2014, o número de operações aumentou 31% em relação ao ano anterior. De 2015 a 2017, esse crescimento é de 30% ao ano.

Mas os números mostram que a Lava Jato não é responsável por esse crescimento. As operações deflagradas pela PF no Paraná em 2014 representaram um aumento de 16% em relação a 2013 – foram 22 operações naquele ano e 19 no ano anterior. O estado passou do quarto para o sexto lugar no ranking nacional de mais operações deflagradas naquele ano.

Os estados que mais deflagraram operações em 2014 foram São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em 2015, o Paraná passou para o terceiro lugar no ranking, atrás de São Paulo e Minas Gerais.

Em 2016, auge da Lava Jato no Paraná, o estado deflagrou ao todo 52 operações – 17 só da Lava Jato. Mesmo assim, ficou em sétimo lugar no ranking nacional. O estado com mais operações deflagradas foi o Rio Grande do Sul, onde os policiais federais foram às ruas 74 vezes.

O Paraná continuou em sétimo lugar no ranking nacional em 2017 e 2018. No ano passado, a PF no estado realizou ao todo 57 operações, o maior número nos últimos 10 anos. A Lava Jato, porém, só foi às ruas 10 vezes em 2018 no Paraná.

Outro ex-governador preso em operações da Polícia Federal foi Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Outro ex-governador preso em operações da Polícia Federal foi Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Rio de Janeiro, que deflagrava em 2016 sua primeira fase da Lava Jato, a operação Calicute, estava em 14.º lugar no ranking nacional naquele ano. Em 2017, as operações deflagradas no Rio cresceram 32%, para 37 ações. Já no ano passado, foram deflagradas pela PF no Rio de Janeiro 57 operações, número 54% maior em relação a 2017. Os anos com mais operações deflagradas pela PF fluminense são justamente os anos a partir da primeira fase da Lava Jato no estado: 2016, 2017 e 2018. Mesmo assim, o estado continuou em 14.º lugar no ranking nacional até o ano passado.

A Lava Jato não é a única grande operação deflagrada pela Polícia Federal nos últimos 10 anos. Desde 2009, policiais de todo o país já participaram de investigações que levaram à deflagração da Castelo de Areia (2009), Monte Carlo (2012), Gafanhotos (2014), Acrônimo (2015) e Zelotes (2015), por exemplo.

Inédito: adolescente disse que flagrou jogador Daniel dentro do quarto dos Brittes