Convidados desconfiados, seguranças arredios e muita boataria circulava no Salão Verde da Câmara dos Deputados desde a manhã desta terça-feira, 1, quando tiveram início os primeiros preparativos para a cerimônia de posse do presidente eleito Jair Bolsonaro. “Eu ouvi dizer que tem até mesmo agente escondido nos esgotos”, contava pelos corredores do um dos profissionais encarregados de organizar o cerimonial do evento, sem nenhuma certeza sobre a veracidade da informação.

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No entorno do carrinho improvisado para servir café, uma copeira e um bombeiro comentavam que nunca haviam visto uma cerimônia de posse com tantas restrições. Embora ninguém soubesse dizer ao certo qual era o alcance da estrutura de segurança do novo presidente, o fato é que ela começou a interferir na rotina de servidores bem antes. Na Câmara, por exemplo, integrantes da segurança contavam que, pela primeira vez desde a redemocratização, o expediente de meio período no dia 31 de dezembro foi suspenso, por conta do isolamento da área.

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No Palácio do Planalto, as recomendações começaram antes. Já no último domingo, dia 30, os funcionários foram orientados a não mexer nas persianas, que permaneceriam fechadas até a posse. Um funcionário resumia a recomendação repassada às equipes: “Avisaram que não era nem para encostar nas persianas, ou algum sniper poderia atirar. Disseram que qualquer gesto seria interpretado como hostil”.

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Hoje, na medida em que as horas avançavam, as mudanças no repertório tradicional da solenidade no Congresso acabaram por provocar alguma animosidade entre seguranças e jornalistas isolados no Salão Verde desde cedo. Houve discussões sobre a liberação do acesso a café e água – posteriormente servidos aos profissionais – e sobre em qual canal seriam sintonizados os projetores situados no local.

Sempre que alguma confusão tomava forma, assessores procuravam repassar a responsabilidade. Até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pegou o bonde. Questionado pelos jornalistas, engatou: “É com o Congresso.”