O Ministério Público Federal (MPF) vai intensificar as investigações criminais e a apresentação de ações penais contra agentes de Estado que teriam cometido crimes no período da ditadura (1964-1985). A decisão foi tomada nesta semana, durante uma reunião dos grupos de trabalho Justiça de Transição, Memória e Verdade e Violação aos Direitos dos Povos Indígenas, para avaliar o relatório da Comissão Nacional da Verdade.

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Divulgado em dezembro, o relatório apresentou uma lista com 377 nomes de pessoas que seriam responsáveis por crimes na ditadura. A lista, composta em sua maioria por nomes de militares, será usada pelo MPF para analisar novas ações.

As conclusões da reunião de avaliação dos procuradores foram divulgadas nesta quinta-feira, 5, por meio de uma Nota Pública. No texto, eles endossam as 29 recomendações feitas ao final do relatório. Uma delas diz que o Estado brasileiro deve responsabilizar os agentes públicos apontados como responsáveis por graves violações de direitos humanos.

Segundo a nota, as recomendações da comissão são “pertinentes e consentâneas com os parâmetros constitucionais e internacionais a respeito do assunto”. O MPF vem já vem encaminhando ações penais contra esses agentes desde 2011. De lá para cá foram instaurados 290 procedimentos de investigação criminal e ajuizadas 12 ações penais, envolvendo 24 agentes civis e militares. Segundo a nota, eles estariam “envolvidos em sequestros, homicídios, ocultação de cadáveres, transporte de explosivos, associação criminosa armada e fraude processual”.

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As ações do MPF estão relacionadas à decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que, em 2010, condenou o Brasil no julgamento de uma ação envolvendo os mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, ocorrida na década de 1970. Uma das recomendações feitas na sentença é para que o País responsabilize os agentes de Estado.

Até agora nenhum agente foi condenado. Na maioria dos casos, a Justiça Federal vem recusando as ações, sob o argumento de que os agentes foram beneficiados pela Lei da Anistia de 1979.

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Mapeamento

Mesmo com os reveses, os procuradores vão reforçar as ações. Entre outras medidas anunciadas na nota, irão mapear os 434 casos de mortos e desaparecidos relatados pela Comissão da Verdade – para identificar aqueles que ainda não estão sendo investigados. Quando houver provas suficientes, serão propostas ações penais.

Na área cível, também serão reforçadas as iniciativas para o ajuizamento de ações contra os agentes. Nesses casos, se houver comprovação da responsabilidade, pode ocorrer cassação de aposentadorias e perda de patentes e condecorações.

Serão feitas ainda sugestões aos procuradores regionais, da área de Direitos do Cidadão, para que tomem medidas destinadas à retirada do nome de agentes envolvidos em graves violações a direitos humanos de logradouros públicos, como ruas, pontes, rodovias. Essa foi outra recomendação feita no relatório final da Comissão da Verdade.