Um inquérito civil aberto pelo Ministério Público (MP) de São Paulo apura fraudes em contratos de licitações que podem ter dado a 12 concessionárias de rodovias do Estado R$ 2 bilhões em ganhos indevidos. De acordo com o promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social, Saad Mazloum, o aumento ilegal da margem de lucro foi obtido mediante prorrogação dos prazos das concessões baseada em projeções superestimadas de perdas supostamente sofridas pelas empresas e em cálculos superfaturados dos tributos a serem recolhidos. Segundo ele, o negócio causou grande prejuízo ao erário.

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Em nota divulgada na quinta-feira, 22, o MP informou que o inquérito civil foi instaurado em 2013, com base em representação que noticiava a “vantagem indevida” obtida pelas concessionárias na renegociação dos contratos. De acordo com a promotoria, ocorreram “possíveis atos de improbidade administrativa em suposta obtenção de vantagem indevida” pelas empresas de serviços de pedágio do Estado.

Os aditamentos ocorreram durante a gestão do então secretário de Transportes, Dario Rais Lopes, que é citado no inquérito. Três anos após deixar o cargo, ele foi contratado pela holding EcoRodovias, controladora da concessionária Ecovias, uma das beneficiadas pelos aditamentos. Também é investigada a gestão de Ulysses Carraro, então diretor-geral da Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp).

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Respondendo a requisições do MP, a Artesp informou que em abril de 2011 firmou um contrato com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para assessoramento na revisão e atualização de índices dos contratos da primeira fase do programa estadual de concessões rodoviárias. Nesse trabalho, a Fipe apurou falhas graves nos aditamentos, “ensejadoras de indevidas vantagens às concessionárias e extraordinário prejuízo ao erário”.

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Outro relatório da Fipe apurou ainda “erro no cálculo que favoreceu as concessionárias, como consequência de cômputos de valores que não haviam sido efetivamente desembolsados por elas”. O promotor informou ter prorrogado por mais seis meses o inquérito civil para ampliar a apuração. São citadas na investigação as concessionárias Vianorte, Autovias, Centrovias, Intervias, do grupo Arteris; Autoban, SPVias e Viaoeste, do grupo CCR; Triângulo do Sol, Tebe, Colinas, Ecovias e Renovias.

Pedágios

A Artesp informou, em nota, que os aditamentos objeto de investigação pelo MP não causaram impacto nas tarifas de pedágio. Segundo a agência, os aditivos mencionados no inquérito foram assinados em dezembro de 2006. No trabalho de regulação e fiscalização, foram identificadas inconsistências nas formalizações dos 12 aditivos aos contratos naquele período. Junto com a contratação da Fipe para revisar os aditivos, a Artesp abriu processos administrativos de invalidação dos mesmos. Ações judiciais com esse objetivo estão sendo abertas pela Procuradoria Geral do Estado.

O Grupo CCR informou que, em relação aos aditivos que promoveram o reequilíbrio econômico-financeiro de contratos de concessão das rodovias que administra, continua à disposição do poder público para quaisquer esclarecimentos. “Em razão do segredo de Justiça determinado aos processos que ainda tramitam sobre o assunto, o grupo informa que somente irá se manifestar assim que todos eles forem concluídos.”

O Grupo Arteris informou que ainda não foi notificado.

A Colinas respondeu que não foi notificada e que os aditivos seguem os critérios estabelecidos na licitação, no contrato de concessão e na lei. Essa também foi a informação repassada pela Triângulo do Sol.

As concessionárias Ecovias e Renovias informaram que não comentariam a investigação. A Tebe não deu retorno. O ex-secretário Dario Rais não foi localizado. A EcoRodovias informou que ele já não faz parte dos quadros de colaboradores da empresa. Ulysses Carraro foi contatado por e-mail, mas não tinha dado retorno até as 18 horas.