Morreu na manhã desta segunda-feira, 27, aos 72 anos, a ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis, cidade na região serrana do Rio. O imóvel foi um dos principais centros clandestinos usados pelo Exército para detenção ilegal, tortura, execução e ocultação de cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar.

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Ela enfartou por volta das 5h enquanto dormia em casa, em Niterói, na região metropolitana do Rio “Foi um enfarte muito forte, o médico disse que não poderia ter feito nada”, disse o jornalista Paulo Romeu, de 69 anos, um dos irmãos de Inês. A cremação do corpo está marcada para as 14h30 de terça, 28, no cemitério Parque da Colina, em Niterói.

As informações mais importantes sobre a Casa da Morte foram conhecidas a partir do depoimento de Inês e acabaram confirmadas por documentos produzidos pelo próprio Estado. “Ela foi uma combatente da ditadura que sempre lutou pela democracia. Pagou um preço alto, mas nunca se arrependeu”, disse o irmão.

Inês foi presa em 5 de maio de 1971 por agentes comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, em São Paulo, e levada à Casa da Morte, onde ficou detida de 8 de maio a 11 de agosto de 1971, submetida a torturas e estupros. Sua prisão só foi documentada em 7 de novembro daquele ano.

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Anistia

Inês cumpriu oito anos de prisão por participação no grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de oposição ao governo militar. Foi libertada em 29 de agosto de 1979, com a promulgação da Lei de Anistia.

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Uma semana depois, compareceu à sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio, para registrar seu testemunho. Na denúncia, identificou torturadores e carcereiros, o dono do imóvel, Mario Lodders, e militantes desaparecidos que passaram pela casa. Em fevereiro de 1981, ela ajudou a localizar a casa em Petrópolis.

“Foi uma heroína brasileira. Graças a ela e tão somente a ela descobriu-se a existência da famigerada Casa da Morte, onde foram supliciados e mortos dezenas de perseguidos políticos. Ela foi a única a escapar viva”, disse o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous.

Segundo ele, a comissão apresentará à Camara de Vereadores de Petrópolis pedido para que a rua onde fica o imóvel em que funcionou a Casa da Morte ganhe o nome de Inês. A Comissão da Verdade também defende a transformação do imóvel em um espaço de memória.