Ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) discutem a possibilidade de impedir a reeleição do presidente da corte, Aroldo Cedraz, em sessão marcada para esta quarta-feira, 2. A articulação é uma reação às crescentes pressões do Ministério Público de Contas (MPC) e de auditores do órgão, que lançaram campanha nas redes sociais pedindo que o cargo não seja ocupado por uma autoridade envolvida em denúncias sob investigação.

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Cedraz está na mira de uma sindicância aberta pelo próprio TCU, que investiga suposto tráfico de influência praticado por seu filho, o advogado Tiago Cedraz, cujo escritório atuou em diversos processos na corte. Uma investigação também foi aberta perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e está sob relatoria do ministro Teori Zavascki, responsável pela Operação Lava Jato.

Em sua delação premiada, o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, afirmou ter pago R$ 1 milhão para que Tiago trabalhasse a favor da empreiteira no tribunal. Ele relatou ainda pagamentos de R$ 50 mil mensais para que o advogado repassasse informações privilegiadas da corte.

Um dos casos envolveria a autorização da obra bilionária de Angra 3. Parte do dinheiro supostamente pago a Tiago, segundo o delator, pode ter sido repassado ao ministro Raimundo Carreiro, que relatou o processo de Angra 3. Tiago, seu pai e Carreiro negam envolvimento em irregularidades.

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A substituição de Cedraz foi discutida em almoço no domingo, ao qual compareceram ministros da corte. Conforme dois deles, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a avaliação é que o tribunal é um órgão que também investiga as irregularidades da Lava Jato e a permanência de Cedraz no seu comando expõe a Casa a permanente constrangimento. De lá para cá, contudo, não se chegou a uma definição a respeito, o que dependerá de negociações.

“Ainda temos uma madrugada, uma manhã e uma tarde para chegar a uma conclusão”, disse um ministro ontem à noite. Nas conversas, cogitou-se o nome de substitutos, como Bruno Dantas e José Múcio.

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Pela tradição no tribunal, o presidente e ser vice são eleitos em sessão sigilosa para mandatos de um ano, prorrogáveis por mais um. Outra possibilidade em discussão é impedir que o presidente, a partir de agora, defina sozinho os chefes das áreas de fiscalização do TCU, submetendo as autorizações ao plenário. A medida evitaria que terceiros, como advogados, possam influenciar a escolha.

Nesta terça-feira, 1.º, as principais associações de servidores fecharam uma nota conjunta na qual demonstram “preocupação” com a eleição de presidente e vice-presidente do TCU. “É preciso impedir que suspeitas e denúncias ainda não afastadas possam colocar em dúvida o regular funcionamento do TCU”, diz o texto. “É fundamental que a alta direção do TCU recaia sobre os membros que não estão envolvidos nas denúncias ainda sob investigação, o que preserva a instituição.”

O movimento ganhou o apoio do procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa que conduz a Operação Lava Jato no Paraná. Por meio de uma rede social, ele compartilhou um dos textos contrários à reeleição de Cedraz, do procurador no TCU Júlio Marcelo Oliveira. “Que influência a escolha do presidente do TCU por seus pares pode ter sobre a Lava Jato? O procurador do MP junto ao TCU Julio Marcelo de Oliveira responde a essa pergunta”, escreveu Dallagnol. Procurado pela reportagem por meio de sua assessoria, Cedraz não se pronunciou sobre as críticas quanto à sua recondução. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.