Mais de mil pessoas

Moro afirma que mensagens hackeadas serão destruídas

Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou que as mensagens hackeadas de celulares de diversas autoridades serão destruídas. Já a Polícia Federal, responsável pela operação, afirma que o material será preservado até que a justiça decida o momento oportuno de seu descarte.

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Quem confirmou a informação da intenção de destruir as mensagens foi o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, nessa quinta-feira (25), que foi informado por telefone, pelo próprio Moro, que também tinha sido alvo dos hackers. “O ministro informou, durante a ligação, que o material obtido vai ser descartado para não devassar a intimidade de ninguém”, disse o magistrado.

A operação Spoofing, realizada pela Polícia Federal nessa quarta-feira (24), prendeu quatro pessoas, entre elas Walter Delgatti Neto, conhecido como ‘Vermelho’, que admitiu à PF que invadiu aparelhos celulares de autoridades dos três poderes. A PF afirmou, nesta quinta, que “as investigações que culminaram com a deflagração da operação não têm como objeto a análise das mensagens supostamente subtraídas de celulares invadidos”. “O conteúdo de quaisquer mensagens que venham a ser localizadas no material apreendido será preservado, pois faz parte de diálogos privados, obtidos por meio ilegal”, diz.

Segundo a assessoria do STJ, o mandatário da Corte não teme a divulgação de suas mensagens, já que utilizava de maneira esporádica o aplicativo e, também, não cometeu qualquer irregularidade. “O ministro do STJ disse que está tranquilo porque não tem nada a esconder e que pouco utilizava o Telegram”, afirma, por meio de nota. Noronha também não quis comentar sobre a extensão dos vazamentos. “As investigações sobre o caso são de responsabilidade da Polícia Federal, a quem cabe responder sobre o caso”, diz o texto.

Muita gente

Moro, em sua conta no Twitter, confirmou que as “centenas de vítimas” dos ataques serão comunicadas pela PF ou pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, dando a dimensão da atuação dos piratas cibernéticos.

“A vulnerabilidade foi explorada por hackers criminosos e pessoas inescrupulosas. As centenas de vítimas, autoridades ou não, que tiveram a sua privacidade violada por meio de crime, serão identificadas e comunicadas pela Polícia Federal ou pelo MJSP”, afirmou.

Segundo Moro, “ninguém foi hackeado por falta de cautela”. “Não se exigia nenhuma ação da vítima. Não havia sistema de proteção hábil. Há uma vulnerabilidade detectada e que será corrigida graças à investigação da Polícia Federal”.

Notáveis

Além de Moro e do presidente do STJ, um sem número de autoridades consta na lista dos hackers. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge e até mesmo o presidente Jair Bolsonaro, estiveram na mira dos criminosos.

Maia está em entre os citados pelos investigados durante depoimentos à Polícia Federal. Questionado sobre a invasão, ele afirmou que não utiliza o aplicativo Telegram, meio usado para invadir as contas das vítimas.

O celular de Raquel Dodge também sofreu uma tentativa de invasão, confirmada pela Procuradoria Geral da República (PGR). Diferentemente de outras autoridades, os invasores não conseguiram ter acesso aos dados e o fato já era conhecido do órgão desde maio, já que havia sido identificado pela área de tecnologia de informação do órgão.

Até Jair Bolsonaro acabou na lista. Ele foi informado pelo Ministério da Justiça, que confirmou a informação em nota oficial na manhã desta quinta. De acordo com o presidente, sempre houve cuidado de sua parte com informações estratégicas. “Sempre tomei cuidado nas informações estratégicas. Essas não são passadas por telefone. Então, não estou nem um pouco preocupado. Perderam tempo comigo”, disse.

Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, dois hackeados pelos piratas virtuais. Foto: Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, dois hackeados pelos piratas virtuais. Foto: Alan Santos/PR

Apesar de minimizar uma possível invasão, Bolsonaro garantiu que os criminosos serão punidos. “É um ato que fere a lei. Esse pessoal com toda a certeza será punido na forma da lei”, afirmou.

As provas encontradas em perícias, buscas e apreensões, além daquelas baseadas em depoimentos dos presos na terça-feira (23), apontam também para nomes de procuradores da Operação Lava Jato, para o ministro da Economia, Paulo Guedes, e também para a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann. De acordo com a PF, o número de vítimas pode passar de mil.

Segundo investigadores, a primeira vítima de Delgatti Neto foi o promotor Marcel Zanin Bombardi, da cidade de Araraquara, no interior paulista. “Vermelho”, segundo pessoas que tiveram acesso ao seu depoimento, disse que, a partir dos contatos do aparelho do promotor, teve acesso a outros números de autoridades.

A invasão ao celular do promotor de Araraquara teria motivação pessoal, pelo fato de Delgatti ter sido denunciado por ele, em 2015, em um caso envolvendo tráfico de drogas.

‘Livrando a cara’

O jornalista Glenn Greenwald (direita) com o marido, o deputado federal David Miranda (esquerda). Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
O jornalista Glenn Greenwald (direita) com o marido, o deputado federal David Miranda (esquerda). Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

“Vermelho”, também teria afirmado em depoimento que não pediu nenhuma contrapartida financeira ao dar acesso ao material hackeado ao jornalista Glenn Greenwald. O site The Intercept, que divulgou por primeiro as supostas mensagens trocadas por autoridades, publicou matéria em que afirma que as mensagens também foram repassadas a eles de forma anônima.

No Twitter, Greenwald reafirmou o anonimato da fonte e que não comenta sobre ela. “Como sempre falamos: ‘Em depoimento, Delgatti, um dos quatro presos pela PF, disse que encaminhou as mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira'”.

A defesa do fundador do site The Intercept Brasil, disse, em nota, que “não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas”.

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