Eleições 2018

Lula culpa Zé Dirceu por ‘queda’ na campanha de Haddad

O ex-ministro petista José Dirceu afirma que o PT vai tomar o poder em breve. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, encontrou na segunda-feira (1º), ao chegar à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, um Luiz Inácio Lula da Silva irritado e preocupado, focado em números e com um recado claro para um petista: “manda ele ficar quieto”.

Lula já sabia que Haddad não cresceria muito na pesquisa Ibope* que seria divulgada naquela noite. Mas o resultado foi pior que o esperado. O levantamento mostrou estagnação do afilhado político – o ex-prefeito de São Paulo manteve 21% em comparação com a pesquisa de semana passada -, e crescimento do adversário Jair Bolsonaro (PSL) – saltou de 27% para 31%. No Datafolha desta noite de terça (2), pior ainda: Bolsonaro com 32%, Haddad com 21%**.

Para o ex-presidente, o principal motivo está nas falas recentes de José Dirceu. “Ele, afinal, está do nosso lado ou jogando contra nós?”, teria dito o ex-presidente ao seu afilhado político, segundo uma pessoa que conversou com Haddad na segunda à noite.

Mais de dez pessoas relataram à reportagem trechos do encontro desta semana do presidenciável petista com Lula.

Na última sexta-feira (28), o ex-ministro José Dirceu afirmou, em entrevista ao jornal El Pais que “é uma questão de tempo pra gente [PT] tomar o poder”. No domingo, em Teresina, disse que o Ministério Público não deveria ter o poder de investigar, e classificou a Lava Jato como um dos maiores erros do país, completando ainda que a operação ajudou na derrocada da economia.

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“Manda ele ficar calado”

Essas declarações teriam sido, para Lula, o ponto fora da curva da estratégia que vinha, até então dando certo. Segundo as fontes ouvidas pela reportagem, o líder petista está “furioso” com Dirceu. “Manda ele ficar calado”, teria afirmado ele a Haddad.

O ex-prefeito de São Paulo também está irritado com o ex-ministro. Embora as lideranças petistas tenham vindo a público desmentir a influência na campanha, tem sido um dos mais ativos articuladores dos bastidores nessa reta final.

A semana passada foi de otimismo na campanha petista. Haddad estava em ritmo crescente. A avaliação era de que a herança de votos lulista caminhava bem. Contudo, as afirmações de Dirceu vieram para acabar com a onda de confiança. O abalo foi sentido de imediato nas redes sociais. E se confirmou com o Ibope, realizado justamente no fim de semana.

A expectativa do PT era surfar nas manifestações que tomaram o país no sábado (29) contra o adversário do PSL. Contudo, no fim das contas, o PT acabou “pregando para convertidos e reaglutinando o voto antipetista”, afirmou mais um integrante da legenda. O que mais chamou a atenção dos estrategistas da campanha presidencial, inclusive, foi o crescimento de 6% de Jair Bolsonaro entre mulheres, justamente de onde partiu a iniciativa dos movimentos nas ruas.

Alguns têm comparado o desempenho do deputado federal ao de João Doria (PSDB) na reta final da disputa à Prefeitura de São Paulo em 2016, quando o tucano derrotou justamente Fernando Haddad no primeiro turno.

“Naquele ano, o que aconteceu é que a parcela antipetista reagiu de forma expressiva acima de qualquer coisa. O que estamos vendo é que nem o antibolsonarismo e suas ideias antidemocráticas e tudo o que envolvem contra direitos humanos têm sido capazes de vencer o medo do retorno do PT. E o Dirceu reavivou isso”, resumiu um estrategista da campanha de Fernando Haddad.

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Estratégias

Desde semana passada, a ordem de Lula era começar a “bater” em Bolsonaro. Com a visão de que a transferência de votos do padrinho para o afilhado estava concluída, a avaliação era de que seria preciso aderir ao que os demais candidatos já vinham fazendo e desconstruir a imagem do principal adversário. Isso com a certeza absoluta de já estar no segundo turno.

Novo cenário, recuo na estratégia. Mais cautela. “É preferível assegurar votos, conquistar pela simpatia, que pela antipatia no outro. É preciso reconhecer a fragilidade. Mas depende também do público. Precisamos agir com inteligência em cada lugar. Foi esse o recado de Lula. Vamos com calma nessa última semana. Cada caso um caso. Mas o Dirceu fica calado”, concluiu um senador que tenta reeleição e está e participa do turbilhão de conversas e vai e vem desse enredo.

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Metodologias

* Pesquisa realizada pelo Ibope nos dias 29 e 30 de setembro com 3.010 entrevistados (Brasil). Contratada por Rede Globo e O Estado de S. Paulo. Registro no TSE: BR-08650/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

** Pesquisa realizada pelo Datafolha de 2/out a 2/out/2018 com 3.240 entrevistados (Brasil). Contratada por: EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: BR-03147/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

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