Análise

Lula e o PT afundam com a derrocada do projeto de poder

O afastamento da presidente Dilma Rousseff aprovado por ampla maioria pela Câmara dos Deputados e agora chancelado pelo Senado não é apenas uma derrota pessoal dela. Existem dois grandes perdedores com esta situação. Um deles é o PT, que desvirtuou tudo aquilo que havia pregado enquanto não estava no poder e agora colhe os frutos amargos da sua desfiguração.

Aquele partido não existe mais. No dizer de um dos respeitados cardeais do petismo, o ex-governador e ex-ministro Tarso Genro, o PT precisa ser refundado. O líder gaúcho vem pregando esta tese desde que o escândalo do Mensalão emergiu, ceifando a carreira política de José Dirceu, o que colaborou para precipitar a chegada de Dilma Rousseff ao poder.

O segundo grande perdedor é Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que saiu dos rincões do país de pau-de-arara, penou até se tornar um sindicalista proeminente e depois alcançou a Presidência da República, sendo o presidente mais popular em décadas.

Este Lula também não existe mais. Ele sai bem menor deste episódio. Não só porque viu seu prestígio ser detonado por deputados vira- casacas, que prometeram barrar o impeachment e na frente das câmeras agiram de modo totalmente contrário. Isso é do jogo político.

O bombeiro queimou o filme

O problema de Lula foi se prestar ao papel de “bombeiro” de uma crise criada pela sua afilhada política, que paralisa o Brasil, faz a inflação disparar e ceifa empregos. E ao mesmo tempo Lula teve o displante de buscar guarida neste governo cambaleante no afã de conquistar foro privilegiado para escapar do cerco da Operação Lava Jato que está fechando sobre ele. É vergonhoso, porque quem não deve não teme.

Lula, se quiser recuperar pelo menos uma parte da credibilidade, precisa se reciclar, assumir que cometeu erros. Nem a formidável militância petista de outrora já não o segue cegamente, está longe de “incendiar o país” como Lula pretendia. Este Lula não tem envergadura para disputar a sucessão de Michel Temer em 2018.

Citando novamente Tarso Genro, que parece uma das poucas pessoas que ainda têm juízo neste partido, na hora da prestar contas na campanha o PT ficaria devendo. “Quem disse que é viável uma candidatura do Lula em 2018, em função dos resultados do governo da presidenta Dilma? E quem disse que ele quer?!, citou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Encurralado

Mesmo que queira ser candidato, Lula antes terá explicar como se tornou beneficiário de uma triangulação criminosa: o dinheiro saía da Petrobrás, passava pelas empreiteiras e parte dele ia para o ex-presidente em forma de pagamentos dissimulados de palestras, viagens pelo mundo, o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá. Isso sem contar que os desvios provêm da Petrobras, a maior companhia brasileira, hoje uma das maiores empresas mais endividadas do mundo. Não vamos nos esquecer também da Operação Zelotes.

Partido mostrou incompetência na gestão pública

Muita água ainda vai rolar até 2018. Por isso o importante é se concentrar no agora. E os escombros desta crise apontam que o projeto de poder do PT fracassou. O partido mostrou incompetência na gestão pública e causou destruição do patrimônio estatal. Aparelhou febrilmente a máquina pública mas não conseguiu o seu controle e se afundou no lodo da corrupção.

Paralelamente a este processo, Lula e Dilma mentiram descaradamente à população na campanha de 2014, só para se manter no poder. O resultado é que o país afundou numa crise econômica sem precedentes.

Em 2015, a recessão atingiu 3,8% o que nos colocou em 30.º lugar entre 32 países pesquisados. Só ganhamos da Venezuela, que está quebrada e já encurtou até a jornada dos servidores públicos para economizar, e a Ucrânia, que está sendo massacrada pelo poderoso exército russo.

Dias melhores virão? Eu, diria que já são dias melhores porque no momento em que o projeto de poder do PT ultrapassou todos os limites, os instrumentos de defesa da democracia se fizeram presentes e mostraram que ninguém está acima da lei.

O Estado Democrático de Direito representados na Justiça, Ministério Público e a Polícia Federal reagiram para colocar um fim neste descalabro. Além disso, o PT não conseguiu censurar os meios de comunicação, que permaneceram livres mostrando para a sociedade os intestinos do poder, dando um contribuição vital para o debate. Vamos torcer para que tudo isso não tenha sido em vão.