Lindbergh: inclusão de episódio não desrespeita Collor

Líder do movimento dos caras pintadas e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) na ocasião do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) estava comentando o “grande erro do Sarney e da equipe” por retirar o impeachment da lista dos episódios que marcaram a história do Senado quando foi informado de que o presidente da Casa tinha mandado incluir na galeria o registro da saída do ex-presidente Collor do poder.

“Era um erro, mas vejo que agora Sarney entendeu que não foi um acidente, foi um momento do qual temos orgulho na nossa história. Foi uma bela página que mostrou a maturidade democrática. Foi um processo que veio das ruas, mas obedeceu os princípios da legalidade”, comentou o petista.

Para Lindbergh, a inclusão do impeachment entre os fatos históricos “não é nenhum desrespeito com o senador Collor”. “O pessoal do Senado tinha sido mais realista que o rei. O próprio Collor acha que este não foi um momento menor da história do País”, disse Lindbergh. O senador petista afirmou que agora, no Senado, tem uma “relação educada e civilizada” com Collor, companheiro da base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

História

Ao ser informado sobre o comentário do presidente do Senado de que o impeachment do ex-desafeto e hoje aliado foi um “acidente” e por isso não faria parte dos fatos históricos exibidos no corredor da Casa conhecido como “túnel do tempo”, o cientista político Luiz Werneck Vianna ironizou: “Foi um acidente? Então vai ser corrigido?” Parecia antever que, poucas horas depois, Sarney voltaria atrás e mandaria acrescentar o episódio na exposição permanente.

Esclarecido que o “acidente” apontado por Sarney foi o impeachment e não a omissão, o professor e pesquisador da PUC-Rio lamentou: “Não lidamos criticamente com a nossa história. Temos um instrumental de apagar o retrato das pessoas indesejáveis e devolver para a vida em outra circunstância”.

Vargas

Werneck Vianna lembrou que também “esqueceu-se a Era Vargas, que depois foi recuperada”. Para o cientista político, a presença de Collor no Senado, depois de eleito em 2006, “deve ter sido determinante” para a opção de apagar o impeachment do rol de momentos marcantes da história. “A culpa não é tanto do Sarney, mas de quem o devolveu à ribalta: os partidos e o voto”, afirmou.

Professor da pós-graduação em história social da UFRJ, o pesquisador Carlos Fico viu uma atitude “de muita condescendência e pouca fibra” na omissão do impeachment. “O Sarney foi uma das pessoas mais humilhadas pelo Collor. O Senado não deveria se envergonhar, mas se orgulhar deste episódio (o impeachment)”, diz Fico.

“A atitude foi completamente equivocada. No impeachment, não só o gesto em si foi importante. Revelou a indignação da sociedade contra a corrupção e mostrou que, depois da ditadura, tínhamos uma democracia relativamente bem estruturada que foi capaz de suportar o afastamento do presidente”, diz o historiador. Fico não tem dúvida de que a decisão de esconder o impeachment “se deve ao desconforto com a presença do senador Collor”.