Kirchner espera ser eleito comandante da Unasul

O ex-presidente argentino Néstor Kirchner, atual deputado – e considerado o verdadeiro poder no governo de sua esposa, a presidente Cristina Kirchner – contaria com o respaldo da maioria dos presidentes dos países da América do Sul para transformar-se no secretário-geral da Unasul, entidade supranacional criada em 2007 com a intenção de aprofundar a integração econômica e política da região. O mais recente respaldo concedido a Kirchner provém do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O apoio do governo brasileiro à candidatura de Kirchner – conhecido por ter pouco tato, ausência de diplomacia e por sua aversão a reuniões internacionais – foi anunciado na terça-feira à noite pelo governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, homem de confiança do casal presidencial.

O plano é que Kirchner seja entronizado no comando da Unasul na reunião de cúpula que esta entidade regional realizará nos dias 4 e 5 de maio em Buenos Aires. Nesse conclave, além da candidatura de Kirchner, os presidentes discutiriam a formação de um fundo de ajuda sul-americano para o Haiti. O encontro também servirá para debater que posição a Unasul assumirá perante o governo do novo presidente de Honduras, Porfírio Lobo, ainda não reconhecido por vários países da América do Sul.

O sonho de Kirchner de ter um cargo internacional conta com o respaldo explícito do presidente boliviano Evo Morales, além do venezuelano Hugo Chávez e do equatoriano Rafael Correa. Outros países da região concordam com a essa candidatura, embora sem tom enfático.

O Uruguai foi o único empecilho declarado contra Kirchner ao longo dos últimos dois anos por causa da tensão diplomática entre o governo argentino e o presidente uruguaio Tabaré Vázquez. No entanto, o novo presidente do Uruguai, José Mujica, que tomou posse em março, segundo informações extra-oficiais, teria indicado à presidente Cristina Kirchner que não teria obstáculos contra a candidatura de seu esposo.

No entanto, oficialmente, o governo uruguaio ainda não confirmou que respaldará Kirchner. Fontes diplomáticas indicam que o governo uruguaio está esperando nesta semana a definição na corte internacional de Haia sobre o conflito que o país mantém com a Argentina por causa da fábrica de celulose da empresa finlandesa Bótnia, instalada nas margens uruguaias do rio Uruguai, na fronteira de ambos países. Caso o parecer seja favorável ao Uruguai, e na hipótese que a presidente Cristina o acate, o presidente Mujica apoiaria a candidatura de Kirchner.

Transferência temporária

A certeza da eleição de Kirchner é uma certeza no círculo do ex-presidente. Assessores do ex-presidente avaliam reciclar um edifício governamental abandonado da rua Juncal, na área central de Buenos Aires, para que Kirchner ali instale a secretaria-geral da entidade. A sede da Unasul, teoricamente, é Quito, no Equador. Mas Rafael Correa estaria de acordo na transferência temporária da sede para Buenos Aires.

Diplomatas consultados pelo Estado ressaltam que Kirchner não se enquadra no papel de um líder regional para armar consensos e desativar crises, já que não tem papas na língua e aplica a estratégia de ‘bater primeiro para conversar depois’. Eles ressaltaram que o próprio Kirchner costuma afirmar que possui aversão às cúpulas: “não gosto de ir por aí de coquetel em coquetel”.

Sul-americanos

A Unasul é composta pelos 12 países da América do Sul: a Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Suriname e Guiana (a ex-Guiana Britânica). As únicas exclusões da Unasul na América do Sul são a Guiana Francesa (departamento de além-mar da França) e as Ilhas Malvinas (pertencente à Grã-Bretanha).