"Explosão turística"

Jandaia do Sul recebe R$ 21,8 milhões do Turismo

A pequena Jandaia do Sul (PR) não é cidade sede da Copa, não tem praia, nem consta de qualquer roteiro turístico nacional ou estrangeiro, mas recebeu R$ 21,8 milhões em convênios com o Ministério do Turismo nos últimos três anos.

É um recorde no Estado, que deixou para trás a capital, Curitiba, e todas as cidades do litoral, conforme dados do Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU).

Com suas cataratas deslumbrantes, Foz do Iguaçu, segundo maior destino turístico do País, perdendo apenas para o Rio de Janeiro, levou só R$ 17,6 milhões, a segunda maior dotação do Ministério nos últimos três anos.

Londrina, outra cidade que atrai milhares de turistas pelo clima frio e nevoeiros que lembram Londres, foi contemplada com R$ 13,6 milhões no período. A `explosão turística’ de Jandaia do Sul coincide com a eleição do prefeito José Rodrigues Borba (PP), em 2008.

Borba conseguiu R$ 6,5 milhões logo no início. A partir da posse, em janeiro de 2009, até agora ele obteve mais R$ 15,3 milhões em sucessivos convênios com o Ministério.

Borba integra a base aliada desde o primeiro governo Lula e é um dos 36 réus do inquérito do mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Acusado de corrupção e bando, ele renunciou ao mandato de deputado federal para evitar a cassação. Na época ele foi líder do PMDB, partido do então deputado Pedro Novais.

Com 20 mil habitantes, situada no Vale do Ivaí, a cerca de 390 quilômetros de Curitiba, Jandaia do Sul tem excelente IDH, um hospital psiquiátrico top e é chamada de cidade simpatia.

Mas fica a 400 quilômetros da praia e a quase 200 quilômetros das cataratas, não possuindo atrativos relevantes. A cidade não consta da lista dos 65 classificados pelo Ministério como “indutores de turismo”.

Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), o caso revela a que ponto chegou o loteamento do governo para atender a base aliada. “Não há qualquer compromisso com prioridade de investimentos, nem com boa aplicação dos recursos”, afirmou.

O disparate pode ser medido por um dado: os maiores convênios se destinam a pavimentação e drenagem (R$ 11,2 milhões e a calçamentos (R$ 2,6 milhões), gastos típicos do Ministério das Cidades. “É paralelismo de ação e superposição de poderes”, criticou.

Outros convênios se destinaram à construção de um auditório (R$ 1.121.250), custeio das festividades natalinas de 2009 (R$ 200 mil) e revitalização da praça central da cidade (R$ 146.250).

Por meio da assessoria, Novais informou que a Pasta apoia obras que podem contribuir para alavancar o turismo em cidades como Jandaia do Sul, mesmo que não estejam relacionados entre os 65 destinos turísticos.

O ministro lembrou que todos os projetos, para serem aprovados, devem apresentar justificativa técnica e que os gestores jandaienses podem ser punidos se as metas não forem atingidas.

“Caso seja detectada qualquer irregularidade, os gestores serão responsabilizados e poderão ser obrigados a devolver os recursos aos cofres da União”, enfatizou. Borba não retornou às ligações da reportagem para comentar sobre o assunto.