Este ano caminha para ser um dos mais violentos para os profissionais de imprensa do País, por causa dos casos relacionados à cobertura jornalística das manifestações de junho. O Relatório para a Liberdade de Imprensa 2012-2013, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), mostra que de outubro de 2012 a setembro de 2013, foram registrados 136 casos de ameaças, atentados e agressões, censura judicial e assassinatos contra jornalistas no exercício da profissão, crescimento de 172% em relação aos 50 casos verificados nos 12 meses encerrados em setembro de 2012.

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O relatório 2012-2013 contabiliza cinco mortes. No relatório anterior, foram registrados seis casos de assassinato. Mas os casos de hostilidade à imprensa durante os protestos que tomaram as cidades brasileiras a partir de junho, sobretudo agressões e intimidações, contribuíram para elevar as ocorrências monitoradas pela Abert. Os casos relacionados às manifestações mereceram registro à parte no relatório.

“Infelizmente, 2013 ficará marcado como um ponto negro, pelo aumento explosivos do ocorrências”, afirma o presidente da Abert, Daniel Slaviero. “Quando um profissional é impedido de fazer seu trabalho, a maior prejudicada é a sociedade”, completa. No relatório, a Abert chama a atenção para o caráter histórico das manifestações e para a diversidade das reivindicações, mas critica a hostilidade contra a imprensa, com “agressões e intimidações à população e a jornalistas, além de atos de vandalismo contra veículos de comunicação”.

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“Em sua maioria, a violência contra profissionais de imprensa partiu de grupos minoritários de manifestantes, de vândalos e de policiais”, diz a introdução do documento. Nesta terça-feira, 15, o relatório da Abert será lido na 43.ª Assembleia Geral da Associação Internacional de Radiodifusão (AIR), que vai até quinta-feira, 17, no Rio, e será aberta nesta segunda-feira, 14. De acordo com Slaviero, vice-presidente do Comitê Permanente de Liberdade de Expressão da AIR, o aumento do número de casos contra a liberdade de imprensa no Brasil serve de exemplo internacional.

“Isso mostra aos outros países que é preciso haver vigilância permanente, pois os casos podem ocorrer em qualquer país, mesmo nas democracias”, diz o presidente da Abert. O mesmo vale para o Brasil. Por um lado, o fato de as agressões a jornalistas durante os protestos terem partido tanto de grupos minoritários de manifestantes como de policiais sugerem que a liberdade de imprensa é um valor menos solidificado na sociedade do que se pensava. Por outro, demonstra que essas liberdades não são valores absolutos, atingidos plenamente.

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“Apesar de ser um valor enraizado na sociedade, as liberdades de expressão e de imprensa são um processo, que precisa de consolidação e vigilância permanente, para não haver retrocessos”, completa Slaviero, chamando atenção para os quatro casos de censura prévia assegurada em por decisões judiciais como foco de preocupação.