Crise

Grampo no STF acirra disputa entre PF e Abin

A crise da escuta clandestina nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, acirrou a disputa entre a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O ministro da Justiça, Tarso Genro, admitiu na terça-feira (2) que o grampo pode ter sido feito ilegalmente por agentes da Abin e assumiu a defesa da Polícia Federal. Tarso foi duro em relação à Abin: disse que a agência “não poderá sonegar informação” no inquérito sobre o grampo, sob pena de ficar com a pecha da espionagem. O escândalo resultou no afastamento temporário do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, e seus subordinados.

Tarso reconheceu a possibilidade de os grampos nos telefones de Mendes terem sido feitos no rastro da Operação Satiagraha, que em julho acertou o sócio-fundador do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, preso duas vezes. “É uma linha de investigação não excluída”, disse, ao responder a uma pergunta sobre a possível conexão entre os fatos. “Pode ser alguém que tenha ou teve vínculos com a Abin e que não necessariamente tenha agido a mando da direção.

Tarso reafirmou que o inquérito da Satiagraha teve problemas, por causa da “espetacularização” das prisões, mas não quis responsabilizar Lacerda – definido por ele como “homem sério” – pelas interceptações telefônicas. “Queremos reorganizar as relações da Abin com a PF para que sejam totalmente formais e explicitem o nível de colaboração. A Abin, por exemplo, não pode fazer interceptação nem investigações”, insistiu o ministro.

Em conversas com assessores, Lacerda rejeitou na terça a suspeição levantada sobre a Abin por Tarso e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Para Lacerda, “a investigação central sobre o grampo deve ser feita no Senado e na empresa que faz a assistência técnica dos serviços de telefonia da Casa”. Ele chegou a dizer que um grampo no STF, feito por um agente da Abin e a serviço de um delegado, “seria uma insanidade, um caso de internação”. “Protógenes é tecnicamente qualificado e, críticas à parte por eventuais deficiências, jamais cometeria tamanho amadorismo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.