O governo quer que deputados deixem suas digitais nas indicações feitas para preenchimento dos cargos de segundo e terceiro escalões. A ideia é que os parlamentares assinem uma planilha, ao lado dos nomes de seus afilhados políticos, para que possam ser cobrados, caso eles venham a se envolver em alguma irregularidade após assumir o posto. A iniciativa, porém, não tem sido bem recebida pelo Congresso.

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Deputados receberam de articuladores políticos do Palácio do Planalto, na última semana, a lista de cargos disponíveis para nomeações nos Estados. O governo vai preencher as vagas em troca do apoio à reforma da Previdência, considerada fundamental para o ajuste das contas públicas. Mas a exigência para que os políticos coloquem suas assinaturas nas indicações não agradou em nada aos congressistas.

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Auxiliares do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, argumentam que os aliados também precisam arcar com o ônus de ser governo. Além de assumir a responsabilidade pelo apadrinhado, a assinatura também garante ao governo uma prova de que o deputado participa efetivamente de sua base de apoio e, portanto, poderá ser cobrado em votações de interesse do Executivo.

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Coordenadores de bancadas de cinco Estados disseram que os deputados estão preferindo abrir mão das indicações caso tenham que se comprometer com a agenda do presidente Jair Bolsonaro. Há outra motivação menos nobre. A maioria dos cargos oferecidos não tem relevância. Os mais importantes estão fora da lista apresentada por interlocutores da Casa Civil.

A planilha do Paraná, por exemplo, não permite que os congressistas recomendem profissionais para as vagas de Itaipu. No Nordeste, ficam de fora das negociações as cadeiras para o Banco do Nordeste, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), para a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Porto do Mucuripe ou Funasa. Sobram vagas na superintendência da Agricultura ou do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), consideradas menos relevantes.

Na semana passada, o deputado Roberto Pessoa (PSDB-CE) ouviu do líder da bancada no Nordeste, Domingos Neto (PSD-CE), que a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), colocou à disposição deles uma planilha com vagas destacadas em amarelo. “São cargos do quinto escalão e nenhum deputado vai indicar ninguém. Por exemplo, sugerem a cadeira do assessor jurídico do Incra, que é uma vaga concursada”, reclamou Pessoa.

Na ausência de Onyx, que viajou à Antártida nesta semana, Joice assumiu a dianteira da articulação política no Planalto. A deputada diz ter recebido 54 parlamentares no gabinete do ministro e negou que tenha oferecido cargos em troca de apoio. “Ouvi as demandas e apresentei informações que vão muito além de simples discussões de espaços”, disse. “Falamos de retomada de obras prioritárias nos Estados, indicação de obras fundamentais e de como os parlamentares terão tratamento VIP comigo e com Onyx na articulação política.”

Joice relatou ter ouvido “as angústias” dos parlamentares. “Entre elas, está a ocupação de alguns espaços, mas estamos firmes com as questões rígidas dos critérios técnicos”, garantiu. As reuniões no Palácio acontecem a portas fechadas. Ao entrar, os parlamentares precisam deixar os celulares do lado de fora. Nomeado como assessor da Secretaria Especial para a Câmara, o ex-deputado Abelardo Lupion acompanha as reuniões.

O modelo de articulação do governo vem sendo criticado por dirigentes de partidos. A avaliação de muitos é a de que Onyx está enfraquecido e dá a impressão de não ter autonomia para decisões, ao contrário do ministro da Economia, Paulo Guedes. “O ministro é otimista. O que ele vende para todo mundo é que o Brasil vai virar o céu. A única coisa que ele não fala é se nesse céu tem lugar para nós ou só para eles”, ironizou o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Na prática, o governo ainda não tem uma base aliada formada. “Nós queremos saber como vai ser a nova política”, afirmou Elmar.

O mal-estar com Onyx não está apenas no Congresso. Recentemente, o chefe da Casa Civil marcou uma reunião com o Tribunal de Contas da União (TCU) para discutir governança e boas práticas de administração. O presidente do TCU, José Múcio Monteiro, não foi nem sequer informado. O relacionamento de Onyx na corte de contas é com Augusto Nardes.

Único ministro civil com gabinete no Planalto, Onyx também é desafeto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O interlocutor político de Maia no Planalto era o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Antes de ser demitido, Bebianno avisou a Onyx: “Você será o próximo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.