Fazendeiros criam grupo para combater sem-terra

Pitanga

  ? Cercado de muito mistério, está sendo criado, no interior do Estado, o Primeiro Comando Rural (PCR), entidade formada por fazendeiros que pretendem contratar seguranças armados para defender suas terras. A primeira reunião foi realizada sábado em Pitanga, a cerca de 350 km de Curitiba, no Centro-Oeste paranaense. Os fazendeiros ainda resistem em divulgar seus nomes, mas não negam que estão se preparando para enfrentar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Um dos integrantes do PCR, identificado como Adriano, morador de Palmital, a 440 km de Curitiba, também no Centro-Oeste, não quis conversar com a reportagem. Ele indicou outro número de telefone, de Campina da Lagoa. Lá, foi dado o telefone de outro informante. Neste, o fazendeiro L., na segunda ligação telefônica, disse que não esteve presente à reunião, mas que estará na próxima.

Segundo ele, há ameaças de ocupação de uma fazenda próxima à sua, entre Palmital e Laranjal. Ele garantiu que os fazendeiros já começam a se armar. “Pelo que eu vi, estão todos armados”, afirmou. “Tem cara que tem até fuzil.” Segundo L., sua fazenda, de 195 alqueires, não tem segurança, mas conta com a ajuda dos vizinhos. Somente um deles teria 30 seguranças armados. “Eles (sem-terra) vão cair do cavalo”, assegurou.

Pela manhã, Adriano havia dado uma entrevista à afiliada da Rádio CBN em Curitiba, na qual afirmou que o PCR já tem cerca de 100 fazendeiros. “Não tem nenhuma ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital, facção criminosa que atua em penitenciárias de SP)”, afirmou. “O pessoal do PCC é muito bonzinho em vista do pessoal do MST, que comete muita barbaridade.”

Segundo ele, cada integrante do PCR vai contribuir com recursos financeiros e com mais dois seguranças armados. “As armas estarão devidamente registradas e com guia de transporte. Tudo na lei”, acentuou. Se houver ocupação de alguma propriedade todos deverão se deslocar até lá para a desocupação. “Primeiro queremos a desocupação pela paz; se não houver, será usada a força”, ameaçou. “Vamos usar a mesma tática deles (sem-terra).” Adriano disse que a situação é “caótica” no trecho entre Palmital e Laranjal. “Não interessa quem é que passa, os sem-terra páram, xingam, revistam.”

MST

A coordenação do MST em Palmital confirmou que existem cerca de 600 famílias acampadas na estrada citada. Segundo um dos coordenadores, a demonstração de força por parte dos fazendeiros, com ostentação de armas, já está existindo. “Essa é a meta deles”, acentuou.

O coordenador disse que essa pressão tem dificultado a vida dos acampados que não podem fazer qualquer melhoria no local. “O pessoal está ficando um pouco irado”, afirmou.

Governador

Em uma nota, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que acumula o cargo de secretário de Segurança Pública, alertou que “qualquer infração será tratada com os rigores da lei”. “Acho lamentável que esse suposto comando de fazendeiros dê ao grupo uma denominação semelhante ao tristemente notório PCC. Temos 24 membros do PCC presos em penitenciárias do Estado. Se o PCR transgredir a lei vai acabar fazendo companhia para seus supostos inspiradores”, afirmou o governador.

Roque sugere racionalidade

O secretário do Trabalho, Emprego e Promoção Social, Padre Roque Zimmermann criticou a criação do Primeiro Comando Rural (PCR), por fazendeiros de Pitanga, região Centro-Oeste do Estado. Roque é membro da Comissão Especial de Mediação das Questões da Terra e defende a utilização do diálogo entre governo, trabalhadores sem terra e proprietários de terra na busca de soluções para a questão fundiária no estado. “Esses fazendeiros precisam fazer uma opção pela racionalidade, não pela violência”, afirmou.

O PCR pretende armar cerca de oitenta homens para defender as fazendas de seus integrantes e inibir a ação dos trabalhadores sem-terra. “Se há um estado constituído, não há porque essas pessoas recorrerem à prática do fazer justiça com as próprias mãos”, defendeu Padre Roque. O secretário também disse que condena a utilização da violência por qualquer um dos lados, inclusive a depredação das propriedades durante as ocupações de terra.

A Comissão de Mediação das Questões da Terra tem como integrantes, além do Padre Roque, Benjamin Zanlourenci, da Secretaria de Segurança Pública, Major Mauro Pirolo, da Polícia Militar e Dom Ladislau Biernaski, da Comissão Pastoral da Terra. Ela deve atuar como intermediária nas negociações entre o governo, os proprietários de terras ocupadas e seus eventuais ocupantes.

Voltar ao topo