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Executivos delatam até colega de empresa

A lista dos nomes citados nos acordos de colaboração fechados pela Odebrecht trouxe uma situação sui generis para a empreiteira. Além de políticos e operadores financeiros, um executivo da própria empresa foi delatado pelos colegas.

Trata-se de Felipe Montoro Jens, que atua na área de reestruturação de ativos do grupo Odebrecht. Jens, segundo dois delatores, pediu “pagamento de vantagem não contabilizada” para a campanha de 2010 de seu tio José Ricardo Franco Montoro. O executivo não pertence ao grupo de 78 funcionários da empresa que fez delação com o Ministério Público Federal no âmbito da Lava Jato.

Nos corredores da empreiteira, o executivo tem dito a amigos que está “bastante chateado” com o fato de ter sido delatado pelos colegas. Ele diz que, na época, apenas tentou se informar sobre como funcionavam as doações da empresa para campanhas eleitorais.

Quando a maior empreiteira do País decidiu relatar às autoridades atos irregulares cometidos, foi feita uma “chamada” em todos as áreas do grupo que poderiam ter algo a declarar à Justiça. Jens ficou de fora e, agora, pode ser investigado.

O Ministério Público Federal enviou um pedido ao Supremo Tribunal Federal relativo ao caso de Jens e de seu tio. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou a apuração dos fatos pela Procuradoria da República em São Paulo, já que nem sobrinho nem tio tem prerrogativa de foro privilegiado. Relator da Lava Jato no STF, o ministro Edson Fachin acolheu o pedido e determinou a remessa do caso.

Segundo o documento enviado por Janot ao Supremo, Jens foi mencionado pelos ex-executivos Carlos Armando Guedes Paschoal e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o BJ. Os dois relataram o pedido feito por Jens à campanha de Montoro. Não há, no entanto, informação sobre valor solicitado ou doado. Benedicto Júnior foi diretor da Odebrecht Infraestrutura. Carlos Armando Paschoal era diretor da empresa em São Paulo.

Na eleição de 2010, Montoro, que é filho do governador Franco Montoro, foi candidato a deputado federal pelo PSDB, mas não foi eleito. Antes, o político foi eleito vereador por São Paulo, em 2000 e 2004, e deputado estadual em 2006.

Jens informou, por meio de nota, que não fez qualquer solicitação de valores em nome do tio. “Nunca foi feito tal pedido de minha parte e muito menos que fossem realizados com recursos não contabilizados. Ademais, Ricardo Montoro era candidato a deputado federal em 2010 e não candidato à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, como o suposto alegado”, afirmou o diretor da empreiteira.

O pedido enviado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo afirma que Ricardo Montoro era candidato a deputado estadual na época dos fatos relatados.

Montoro não foi localizado pela reportagem. A Odebrecht reafirmou que entende que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus ex-executivos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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