‘Esculacho’ contra acusado de tortura reúne 50 em BH

Integrantes do movimento Levante Popular da Juventude voltaram a fazer protesto nesta segunda em Belo Horizonte contra um acusado de envolvimento com tortura durante a ditadura militar. O “esculacho”, como foi batizada a manifestação, levou cerca de 50 jovens com faixas, cartazes e um megafone à porta do médico-legista João Bosco Nacif da Silva, no bairro Belvedere, área nobre na região centro-sul da capital, para cobrar apuração de crimes cometidos por agentes ligados ao regime de exceção.

Nacif trabalhou para a Polícia Civil mineira e foi denunciado por ter assinado, em 1969, laudo médico da necropsia no corpo de João Lucas Alves, militante do Comando de Libertação Nacional (Colina). No número que consta no nome do médico na lista telefônica, ninguém atendeu na tarde desta segunda. Pelo laudo, Alves teria se enforcado nas dependências da antiga Delegacia de Furtos e Roubos, na capital.

Na ocasião, porém, o também preso político Onofre Pinto, desaparecido em 1974, denunciou à Anistia Internacional que a vítima havia morrido em meio a sessões de tortura, que teriam resultado em vários ossos quebrados, olhos perfurados e queimaduras por todo o corpo. Laudo médico encomendado pelo advogado Modesto da Silveira apontou ainda que Alves teve as unhas arrancadas e o corpo apresentava várias equimoses e escoriações, sem indícios de enforcamento.

No fim de março, os jovens do Levante Popular já haviam feito protesto na porta da casa do ex-policial federal Ariovaldo Hora e Silva, também em Belo Horizonte. Ele é acusado por presos políticos de ter participado de sessões de tortura entre 1969 e 1971, quando atuou no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em Minas Gerais. Segundo os manifestantes, Hora e Silva também estaria envolvido na morte de João Lucas Alves.

Além de denunciar ex-agentes do regime militar que teriam envolvimento com torturas e assassinatos, os manifestantes exigem que os crimes sejam esclarecidos. Por meio de nota, o grupo informou ainda que quer “a identificação dos autores desses crimes e das estruturas estatais e privadas envolvidas” nos casos denunciados. “Os jovens apoiam que o relatório da Comissão da Verdade seja encaminhado aos órgãos públicos competentes para auxiliar na localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos, colaborando para a apuração das violações de direitos humanos e fazendo recomendações para a adoção de medidas e políticas públicas para assegurar que não aconteçam novamente”, afirma a nota.