Em e-mail, doleiro da Lava Jato indicou conta do PP à Queiroz Galvão

Menos de dois meses antes das eleições de 2010, na noite de 17 de agosto daquele ano, o executivo Othon Zanoide de Moraes Filho, da Queiroz Galvão, recebeu um e-mail do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Operação Lava Jato e então homem forte do esquema de propinas instalado na Diretoria de Abastecimento da Petrobras. A mensagem era direta e indicava a conta do Diretório Nacional do PP a Othon Zanoide.

O PP foi o primeiro partido a se apoderar de uma diretoria estratégica da estatal petrolífera. Sob comando do ex-deputado José Janene (morto em 2010), o partido tomou conta da área e até impôs a nomeação do engenheiro Paulo Roberto Costa para ocupar a chefia da Abastecimento. Depois, o PT e o PMDB assumiram o controle de outras diretorias, Serviços e Internacional, respectivamente, segundo a investigação.

O e-mail de Youssef para o executivo foi recuperado pela Polícia Federal. Para os investigadores, a mensagem sugere que o doleiro intermediou “doações” da Queiroz Galvão ao PP. Neste contato, ele anota “500.000,00”, que para os investigadores indica um pedido de R$ 500 mil para a legenda.

“Boa tarde segue conta diretorio nacional. partido progressista, banco do Brasil ag-0452-9 c/c-41607-x cnpj-008871 69/0001- 05, 500.000.00”, anota Youssef no e-mail.

A mensagem faz parte do Relatório de Polícia Judiciária número 61, de março de 2016, que analisou a quebra do sigilo telemático de Alberto Youssef e foi juntado aos autos no dia 10 de junho.

Em 2010, a Construtora Queiroz Galvão doou R$ 4.162.500,00 a candidatos daquele pleito. A empreiteira distribuiu R$ 1,6 milhão a sete deputados: Roberto Teixeira (R$ 250 mil), Nelson Meurer (R$ 500 mil, em duas parcelas de R$ 250 mil), Luiz Fernando Faria (R$ 100 mil), Aline Corrêa (R$ 350 mil, em duas parcelas de R$ 100 mil e R$ 250 mil), José Otávio Germano (R$ 200 mil), Roberto Britto (R$ 100 mil) e Pedro Henry Neto (R$ 100 mil).

No relatório, a PF separou outros três e-mails. Naquele mesmo 17 de agosto de 2010, Alberto Youssef enviou outra mensagem a Othon Zanoide, desta vez às 21h54. Nesta, o doleiro se referia ao deputado Pedro Henry Neto.

Em 30 agosto de 2010, às 15h57, Alberto Youssef manda outra mensagem a Othon. “Bom dia dr. otto preciso dos dados das empresas para prestação de conta hoje ultimo dia por favor estou aguardando abraços”, indica o e-mail.

Em resposta, o executivo da Queiroz Galvão encaminha a Alberto Youssef, a quem chama de “Primo”, os dados das empresas para emissão dos recibos, “informando que todos os recibos seriam em nome da Construtora Queiroz Galvão S.A, com exceção do Nacional que seria em nome da Vital Engenharia Ambientel S.A.”.

Defesas

“A Queiroz Galvão não comenta investigações em andamento”, disse a assessoria da construtora em nota. O PP, também por meio de nota se manifestou: “A atual direção do Partido Progressista desconhece a intermediação de captação de recursos eleitorais por parte de qualquer pessoa, seja quem for”, diz o texto.