Eleição de conselheiro do TCE-RJ provoca bate-boca

A eleição de Aloysio Neves Guedes para ocupar a uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) provocou um festival de troca de acusações ontem à noite na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Jornalista, advogado e funcionário público de carreira, Aloysio foi preso em junho de 1983 acusado tráfico de drogas. O novo conselheiro do TCE-RJ admite que tinha amigos que usavam entorpecentes, mas disse jamais ter feito uso de tóxicos – alegando ter sido vítima de um flagrante forjado.

Segundo reportagens da época, uma equipe da Delegacia de Entorpecentes da Polícia Civil do Rio encontrou 200 gramas de cocaína, sementes de maconha, seringas usadas, entre outros materiais para consumo e preparo de drogas no apartamento do novo conselheiro do TCE, em Ipanema, zona sul do Rio. Ele e três amigos foram presos em flagrante. Aloysio foi condenado em primeira instância, mas acabou absolvido quando o processo subiu para a 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.

O caso foi apresentado durante os debates em plenário. O deputado José Nader Júnior (PTB), que teve sua candidatura a mesma vaga no TCE-RJ impugnada pela Mesa Diretora da Alerj, levou recortes de jornal e questionou na tribuna:”Como é que os deputados votarão em uma pessoa que saiu no jornal “O Globo”, no dia 26/06/83, que foi presa por tráfico de droga? Por tráfico de drogas, e eu, com o meu direito cerceado”, questionou o parlamentar, que é filho do conselheiro recentemente aposentado e ex-presidente da Alerj, José Nader. Ele chegou a entrar com pedido de liminar na Justiça, mas o recurso foi negado.

Nader pai e Nader filho foram dois dos alvos da Operação Pasárgada da Polícia Federal. Concluída em junho de 2008, a investigação descobriu um esquema de tráfico de influência e venda de sentenças nos tribunais de contas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Nader Filho chegou a ser indiciado pela PF por corrupção passiva e formação de quadrilha, mas o processo está parado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O deputado ainda é alvo de um processo de cassação que está parado há mais de um ano na Mesa da Alerj. Os dois negam as acusações.

Presidente da CPI do TCE, que investiga irregularidades supostamente cometidas pelos conselheiros do órgão, a deputada Cidinha Campos (PDT) também foi à tribuna. Defendeu Aloysio e atacou Nader com veemência. Cidinha chamou Nader de “ladrão” diversas vezes e deputados tiveram que intervir para interromper o bate-boca entre os dois. “Ele (Nader Júnior) usa esse microfone para fazer extorsão, para fazer chantagem política, econômica e, agora, emocional”, atacou Cidinha.

Chefe de gabinete da Presidência da Casa nos últimos 16 anos, tendo trabalhado para o atual governador Sérgio Cabral (PMDB) e o deputado Jorge Picciani (PMDB), Aloysio foi escolhido por 54 dos 70 parlamentares e passará a ganhar um salário vitalício de R$ 26 mil. Venceu deputados e técnicos experientes do TCE-RJ. Emocionado, disse que a Justiça reabilitou sua reputação.

Aloysio disse que foi vítima de uma tentativa de extorsão de policiais e que sua prisão precisa ser entendida com o que acontecia no Rio de Janeiro na época. “Eu acho que fui boi de piranha”, disse Aloysio.