Um mês depois da Operação Lava Jato deflagrar a 14ª fase, batizada de Erma Omnes (do latim, vale para todos), e levar para a cadeia Marcelo Bahia Odebrecht, o presidente do maior grupo empresarial do cartel que corrompia agentes públicos e políticos em troca de contratos na Petrobras, o publicitário Duda Mendonça procurou o patriarca da família, Emílio Odebrecht, para receber um dívida de R$ 9,6 milhões da campanha de 2014 do candidato ao governo de São Paulo Paulo Skaf (PMDB).

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“Logo que Marcelo foi preso, eu fui procurado pelo Duda Mendonça que tinha relação comigo, ele chegou para mim e disse: tem aí um compromisso da Odebrecht comigo, Marcelo não está mais aí, não sei como está isso na organização , eu estou sem cliente na organização e quero receber aquilo que tenho a receber e eu tenho direito a receber e foi acertado”, relatou o delator Emílio Odebrecht, aos procuradores da Lava Jato, no dia 14 de dezembro de 2016.

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Duda Mendonça, que tenta fechar um acordo de delação com a força-tarefa, é alvo da “Lista de Fachin” – pacote de inquéritos e petições de investigações criminais determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato.

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“De fato foi um programa de campanha que ele era o recebedor disso. Eu mandei o pessoal verificar se tinha essa dívida, tinha essa dívida, e aí tinha sido encontrada uma solução para pagar a dívida via um terreno que ele tinha no Sul da Bahia, perto da praia, que era uma forma de buscar valorizar esse terreno e, com isso, ele receberia o dinheiro que ele tinha (direito)”, detalhou Emílio.

O procurador da República Sérgio Bruno, da equipe da Lava Jato na Procuradoria Geral da República (PGR), questionou se o terreno seria superfaturado e a diferença seria o valor da dívida. Emílio confirmou a tese em seu depoimento do Termo 20, parte do anexo 20 da delação.

Lula

O negócio de compra acabou não saindo, pois, segundo o delator, após a prisão do filho Marcelo todos os pagamentos de caixa 2 e propinas foram suspensos.

“Eu mandei devolver o terreno”, disse.

A operação de compra superfaturada do terreno de Duda, no entanto, chegou a ser montada – mas não executada – e envolvia a construtora baiana DAG, do empresário Demerval Gusmão, amigo de Marcelo Odebrecht. A empresa é a mesma que serviu para a compra do terreno de R$ 12 milhões, em São Paulo, que, segundo as delações, seria dado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser a sede do Instituto Lula.

“O meu papel foi ser cobrado de Duda, saber que era um negócio ligado a caixa 2 em campanha. Como eu já tinha a decisão de anular (os pagamentos ilícitos), não tinha mais, desfaz-se o negócio.”

O valor devido a Duda Mendonça, segundo investigadores da Lava Jato, tem relação com os R$ 10 milhões acertados em 2014 por Marcelo Odebrecht com o presidente Michel Temer (PMDB) – à época, vice – e o ministro Eliseu Padilha, no Palácio do Jaburu, dos quais R$ 6 milhões seriam destinados à campanha de Paulo Skaf em São Paulo, à pedido do empreiteiro.

Emílio disse não saber qual era o valor que a Odebrecht tinha com Duda Mendonça. Sua defesa, no entanto, entregou como documento de prova de corroboração do que fala o delator um contrato fictício entre a empresa e o publicitário, assinado em janeiro de 2015, para serviço de consultoria de “gestão de crise” no valor de R$ 9,6 milhões.

O caso não envolve alvos com foro privilegiado e foi enviado para a Justiça Federal no Paraná, onde o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro definirá se pede para a Polícia Federal apurar o caso.