Dissidentes do PMDB garantem nova vitória

Os dissidentes do PMDB conseguiram ontem em João Pessoa (PB) reunir o número de assinaturas necessárias para antecipar de setembro para fevereiro a convenção que vai eleger os novos integrantes do Diretório Nacional do partido.

O grupo precisava de nove assinaturas (um terço do número de Diretórios Regionais), mas acabou recebendo o apoio de dez – inclusive o do Paraná, que esteve representado na reunião pelo governador Roberto Requião, pelo presidente do partido no Estado, deputado federal Gustavo Fruet, e pelo senador Nivaldo Krüger. Embora tenha conseguido reunir as assinaturas de que precisava, os dissidentes ainda não sabem quando a convenção será realizada. Eles reivindicam o encontro para o dia 16 de fevereiro, mas a decisão cabe à Executiva Nacional, controlada pelo grupo adversário, do deputado Michel Temer (SP).

Na reunião de ontem, os dissidentes também conseguiram outras três conquistas importantes, registradas no documento síntese do encontro, a “Carta de João Pessoa”. O grupo fechou apoio às candidaturas do senador José Sarney (AP) para presidente do Senado e do deputado João Paulo Cunha (PT/SP) para presidente da Câmara Federal, reafirmando posição já assumida na reunião liderada pelo governador Roberto Requião no último dia 4, em Curitiba. Os dissidentes também acataram, por unanimidade, a proposta de Requião de lançar o senador Pedro Simon (RS) como candidato a líder do PMDB no Senado.

Trata-se de um novo movimento do grupo na disputa travada com o senador Renan Calheiros (AL), que reivindica a sua continuidade no posto caso Sarney seja mesmo o indicado pelo PMDB para presidir o Senado. Ontem, Simon disse por telefone a O Estado que participou do encontro para garantir a unidade entre os dois grupos. “Vim em missão de paz. Mas o importante é que, no dia 30, o Sarney participe da reunião em Brasília e que o candidato vitorioso represente bem o partido”, comentou o senador gaúcho.

Unidade

Requião disse que a reunião serviu para reafirmar a decisão do grupo de “recuperar o PMDB, afastando-o da trilha fisiológica” que o governador afirma ter sido adotada por Michel Temer. “Na verdade, mais que qualquer outra coisa, o que estamos fazendo é refundar o PMDB, para firmá-lo como partido programático, de clara definição ideológica e forte cor nacionalista”, comentou. Para o governador, o apoio do PMDB ao governo do PT não significa uma perda de identidade. ´”É, apenas, a reafirmação da ´identidade programática´ entre os dois partidos”.

Segundo o deputado Gustavo Fruet, os resultados da reunião de ontem mostram que o PMDB está buscando unidade e identidade própria, apesar das divergências que marcam a sucessão no partido. “Consenso não significa unanimidade. Assim, estamos conversando para buscar um projeto para o País. Não um alinhamento com quem quer que seja, mas um projeto próprio que queremos levar adiante”, comentou o presidente do PMDB do Paraná.

Os dissidentes voltam a se reunir no próximo dia 30, em Brasília, quando também será discutida a definição do novo líder do PMDB na Câmara Federal. Pelo menos dois nomes estão na disputa: os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Barbosa Neto. “Um terceiro nome está sendo discutido, mas ainda não temos uma posição. O importante é que, seja lá quem for, o líder contribua para que o grupo se fortaleça”, avaliou Gustavo Fruet.

PT pretende retomar diálogo com PMDB

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá se envolver nas negociações para retomar o diálogo entre PMDB e PT e buscar uma solução para o impasse criado em torno da sucessão da presidência do Senado. Ontem, em reunião de 40 minutos com o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, informou que conversará com Lula e com a ala dissidente do PMDB. Além dos senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Tião Viana (PT-SP) que vão atuar também para garantir o acordo entre PMDB e PT na eleição do presidente do Senado.

Renan Calheiros disse que a conversa com o ministro da Casa Civil serviu para reabrir as negociações com o PT e que teria deixado claro ao governo que a divisão do PMDB não interessa a ninguém, muito menos ao governo. “A bancada do PMDB quer garantir o direito de indicar o presidente do Senado sem interferências”, afirmou o senador, enfatizando que a eventual indicação de um nome sem a segurança de apoio no plenário seria a radicalização do processo. “Sem essa garantia do PT estaremos assumindo um gesto radical e essa conversa de hoje foi para restaurar a confiança de que o acordo será respeitado”, completou.

Relação diferenciada com o Congresso

Brasília

(AG) – O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, durante almoço com aliados e ministros na Granja do Torto ontem, que conta com o apoio do PMDB no Congresso. Pellegrino contou que Lula defendeu uma relação diferenciada com o Congresso. -O Congresso é parceiro. Não haverá tentativa de submeter o Congresso ao governo – teria dito Lula na versão de Pellegrino.

E Pellegrino fez eco: -Queremos trabalhar com o PMDB, ter uma relação com o PMDB para que apóie o governo Lula. Mas para ter boas relações, queremos um PMDB unificado e que tenha uma direção que simbolize isso.

O líder do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse que é interesse que o PMDB tenha um papel importante no governo. Segundo ele, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, considerou boa a conversa com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Dirceu teria dito que a conversa com Calheiros abre perspectiva para um entendimento com o PMDB.

Perguntado sobre quem o governo preferia na presidência do Senado, se Renan Calheiros ou José Sarney, Rebelo disse: -Ainda não sabemos quem será. Abriu-se apenas um canal de negociação, um ambiente de conversa. É preciso encontrar um entendimento que preserve os compromissos de Lula na campanha, o pioneirismo de Sarney apoiando Lula desde o início e preserve a liderança do Renan.

Questionado sobre como isso seria possível se os dois senadores querem ser candidatos a presidente da Casa, o líder respondeu: – Como não temos Salomão, precisamos de mais tempo para encontrarmos uma solução – disse se referindo ao rei Salomão que arbitrou entre duas mulheres quem deveria ficar com um bebê recém-nascido, já que ambas alegavam ser a mãe.

O líder rejeitou a acusação de que estaria havendo interferência do Palácio do Planalto nos assuntos do Congresso, especialmente na indicação do nome para a presidência do Senado. – Não acredito que a interferência esteja ocorrendo. O que houve foram apenas conversas políticas.

Mensagem

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende ir pessoalmente ao Congresso para ler a mensagem de abertura dos trabalhos legislativos. Segundo Aldo Rebelo, Lula defendeu uma relação de proximidade e respeito ao Congresso e uma aproximação maior com a base aliada. – Vamos ter que fazer muitos churrascos -teria dito Lula, segundo versão de Rebelo.

O líder disse que Lula considerou que a relação do governo com o Congresso será baseada em lealdade, preservando a independência da instituição, e também em respeito à oposição. – Fui oposição e lamentavelmente nem sempre a oposição foi respeitada no governo Fernando Henrique Cardoso. Se hoje somos governo, temos que respeitá-la, ouvi-la e a pauta do Legislativo será constituída a partir dos interesses do Executivo, do Legislativo e também da sociedade.

O candidato do PT a presidente da Câmara, João Paulo, disse que o apoio do PMDB a seu nome está bem encaminhado. – O apoio virá. Estou conversando com Geddel (Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara) – disse João Paulo.

Isso foi relatado ao presi dente Lula durante almoço de ontem. O presidente se mostrou interessado em saber como estavam as negociações em torno da candidatura de João Paulo. Ele contou que o governo tem maioria na Casa.

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