No relatório parcial encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal argumenta que o próprio presidente Michel Temer confirmou em discurso público ter indicado seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures como interlocutor para o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, dono da JBS. Rocha Loures foi flagrado, em ação controlada da PF, correndo com uma mala de R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS.

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A afirmação da PF sobre a indicação de Rocha Loures está no item 2.2 do documento que versa sobre as “suspeitas de corrupção em razão de interferências em processo submetido ao Cade”. Para os investigadores, a indicação exposta na gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu foi confirmada pelo próprio presidente em seu discurso em 18 de maio do Palácio do Planalto.

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No discurso, Temer disse: “não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias'”. Para a PF, “malgrado o esforço em alterar a conotação” do presidente, a indicação foi confirmada no discurso.

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“A premissa básica para o entendimento deste particular reside, justamente, no trecho do dialogo (..) em que, ao ser questionado por Joesley Batista sobre o canal de comunicação a ser adotado a partir de então – em substituição a Geddel Vieira Lima – o Exmo. Sr. Presidente da Republica indicou, nitidamente, “Rodrigo”, ou seja, Rodrigo da Rocha Loures”, diz o relatório sobre o áudio gravado por Joesley.

Para confirmar que Geddel era o antigo interlocutor de Temer, a PF ainda utilizou os depoimentos do corretor Lucio Bolonha Funaro, apontado como operador financeiro do PMDB da Câmara, grupo político de Temer, e do diretor Jurídico do Grupo J&F, Francisco de Assis e Silva.

Funaro confirmou à PF a existência de um canal de comunicação entre Joesley Batista e o governo federal. Segundo o corretor, preso na Papuda, Geddel Vieira Lima teria lhe confidenciado que manteve contato com Joesley em seu apartamento na Bahia e que, por mensagem de telefone, Geddel contou que o empresário aproveitava os encontros para fazer reivindicações de seu interesse.

Assis e Silva, por sua vez, narrou que Geddel “era pessoa que fazia a interlace entre Joesley e o Palácio e que falar “com Geddel era o mesmo que falar com Michel Temer”. Interrogado pela PF, Geddel ficou em silêncio.

Defesa

O advogado do presidente Michel Temer, Antonio Claudio Mariz, informou nesta terça que a defesa entende ser desnecessário “qualquer pronunciamento neste momento” em relação ao relatório parcial enviado pela PF ao STF.

Apesar da negativa, Mariz criticou a conduta da PF. “Não vamos responder, pois na verdade um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações e não uma peça acusatória. Autoridade policial não acusa, investiga”, afirmou.

O Palácio do Planalto também tem evitado comentar o tema e ao ser questionado oficialmente sobre o andamento das ações da PF diz apenas que os advogados do presidente é que se pronunciam sobre o caso.