A crise que culminou na saída de Antonio Palocci do Ministério da Casa Civil é, sem dúvida, um forte revés para o governo de Dilma Rousseff, mas a presidente tem condições de superá-la. A avaliação positiva é de analistas políticos de Washington, consultados hoje pela Agência Estado. A virada, no entanto, trará um novo desafio para a presidente: Dilma terá que aprender a “fazer política”.

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“Dilma não tem o costume de fazer política. Ela somente atendeu quatro senadores nos primeiros cinco meses de governo. E isso importa. Para os senadores, é necessário mostrar que eles têm trânsito no Planalto”, avalia o diretor para América Latina do Eurasia Group, Christopher Garman. “É claro que essa crise foi um grande sinal de alerta. Mas, de certa forma, é bom que o desfecho aconteceu mais cedo, quando Dilma ainda tem capital político forte”. Para o analista, essa crise pode, no entanto, afetar o índice de popularidade de Dilma no curto prazo.

“Creio que o desafio de Dilma será convencer o público de que é uma obstinada e não está de mãos atadas, mas acho que ela consegue fazer isso”, diz Reva Bhalla, diretora de análises estratégicas da consultoria Stratfor. Bhalla afirma que Dilma é vista como uma líder durona. “Ela demanda muito de sua equipe e deixa as pessoas nervosas. Claro que vai precisar de um time bom em relações públicas para ajudar a trabalhar sua imagem enquanto ela foca em grandes questões”, avalia.

Embora ambos os analistas lembrem que Palocci era mais pró-mercado, a saída do político do cargo e a chegada de uma personagem com perfil mais tecnocrata não chega a ser ruim, acrescentam. “Acho que Gleisi terá um papel diferente. Palocci centralizava atribuições na Casa Civil e também era interlocutor nas principais decisões do governo. Ela deve adotar um modelo (de gestão) mais descentralizador, dando também mais peso ao Ministério das Relações Institucionais”, avalia Garman.

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Força questionada

Garman tem uma posição positiva em relação à nomeação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao posto de ministra da Casa Civil. “É uma estrela em ascensão”. Bhalla acrescenta: “Gleisi deve ter menos a dizer em relação a políticas econômicas. Palocci era a pessoa do mercado, o que era bom para a relação do governo com o mercado. Mas na realidade, Palocci não tinha tanto poder em ditar políticas econômicas neste governo”.

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Garman também relativiza a força de Palocci. Para ele, a visão de que o ex-ministro tinha grande peso nas decisões econômicas é “exagero” e outros integrantes do governo, como o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, mostravam maior influência sobre Dilma nessa área.

Ainda que não esteja preocupado com o impacto da crise no governo no curto prazo, Garman pondera que, no médio prazo, será importante observar como o governo conduzirá a reforma tributária fatiada, uma vez que Palocci era um forte defensor dessa agenda, e qual será a capacidade de o governo resistir às pressões, inclusive no que se refere a cortes de gastos. Ele também acrescentou que será importante que Dilma evite “ruídos na política monetária”, com relação ao controle da inflação.