Os candidatos a presidente da República Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) elegeram a emoção como mote dos programas de estreia no horário eleitoral na televisão. Enquanto uma das primeiras falas de Dilma menciona a “paixão pra fazer o que te mobiliza”, Serra diz que quer governar com o coração. As propostas de governo ficaram para os programas seguintes. Dilma encerra o programa falando de sua “afetividade” com o povo brasileiro. Ela exalta sua “relação afetiva com o povo”, e diz que o governante não pode se guiar apenas racionalmente, tem que se “incomodar afetivamente com a pobreza”. E conclui: “A mim sempre me tocou muito afetivamente a humildade do povo”.

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A equipe de Serra transformou em jingle a música “Bate coração”, de Elba Ramalho, e contratou a paraibana – em mais um esforço para ganhar pontos no Nordeste – para interpretá-lo. Logo na abertura do programa, ouve-se na voz de Elba: “Tum, tum, eu vou de coração”. Na sequência, Serra declara: “Quero governar o País com os brasileiros no coração”.

Ainda na linha emotiva, o programa de rádio de Dilma trouxe uma balada, com toques de viola, que transborda melancolia. O tema não entrou no programa de tevê, mas será explorado adiante, com um videoclipe sentimental, protagonizado por Lula e Dilma. A canção mostra Lula pedindo a Dilma que cuide dos brasileiros e se despedindo: “Deixo em tuas mãos o meu povo e tudo o que mais amei (…) agora as mãos de uma mulher vão nos conduzir, eu sigo com saudade; meu povo ganhou uma mãe que tem um coração que vai do Oiapoque ao Chuí”. O discurso da emoção ajudou o “Lulinha paz e amor”, moldado pelo publicitário Duda Mendonça, a vencer a eleição presidencial em 2002.

Ao contrário do que chegou a ser divulgado, Lula não foi o âncora do primeiro programa de Dilma. Ele aparece em várias imagens ao lado dela, mas só fala uma vez, no depoimento em que relata como, após um único encontro, impressionou-se com ela e decidiu que ela seria sua ministra de Minas e Energia. Foi uma estratégia para não deixar que o presidente com 78% de aprovação popular ofusque a candidata. “A estrela do programa tem que ser a Dilma”, enfatizou o presidente do PT e um dos coordenadores da campanha, José Eduardo Dutra.

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Lado humano

Uma preocupação visível nos programas de Dilma e Serra foi humanizar a figura de ambos e os aproximar do eleitorado de baixa renda. Conhecido no meio político como exigente e centralizador, e preocupado em se dissociar da imagem de “partido de elite” que marca o PSDB, Serra é apresentado ao eleitor como um “homem simples, de bem com a vida”, que nasceu em família humilde e estudou em escola pública. É o “Zé que batalhou, estudou, foi à luta”, diz o narrador.

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O programa expõe as realizações na área de saúde e convida o eleitor a responder “quem foi o melhor ministro da Saúde do Brasil”. Sinaliza que o tucano vai investir suas fichas nessa área, em que tem o que mostrar e Dilma não. Uma pesquisa encomendada pelo Jornal Nacional ao Ibope revelou que a saúde é o tema que mais aflige as famílias brasileiras.

Além de enfocar o lado humano de Dilma, a equipe do marqueteiro João Santana procurou explorar a face feminina da candidata. Afinal, sua principal bandeira é representar as mulheres no poder. Por isso, o programa trouxe uma versão delicada e feminina de Dilma. Ela aparece com uma camisa branca e colar de pérolas, e em imagens suaves, ora admirando uma paisagem, ora brincando com um cachorro. Ela também aparece como filha, esposa e mãe. O eleitor é apresentado à sua filha única, Paula, e ouve um depoimento de seu ex-marido Carlos Araújo.

Surpresa adiada

Com pouco mais de um minuto de tempo de TV, o programa da candidata do PV, Marina Silva, explorou sua principal bandeira, a defesa do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Marina chegou a dizer que o programa surpreenderia pela forma criativa de usar o pouco tempo disponível, mas isso não ocorreu.

O programa de estreia apresentou um resumo da principal retórica de Marina: Uma sequência de imagens alerta para o aquecimento do planeta Terra, a falta de água que vai afetar dois bilhões de pessoas, as ondas que podem crescer até sete metros e inundar cidades como Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis. A candidata só aparece nos segundos finais, em que se apresenta de forma objetiva: “Sou Marina Silva, candidata a presidente do Brasil”.