O primeiro debate presidencial do segundo turno, promovido pelo Grupo Bandeirantes do Comunicação, na noite desta terça-feira (14), foi marcado por trocas de acusações e muitos ataques entre os candidatos. Um tema recorrente no debate foi a economia.

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Logo na abertura do debate, a candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) destacou a educação e o “combate sem tréguas” à corrupção. Dilma também ressaltou o histórico do governo petista, citando o resgate de pessoas da condição de extrema pobreza e o crescimento da classe média, ressaltando que foi criado um grande mercado de consumo, beneficiando toda a economia, mas especialmente os mais pobres. “Lançamos a base para um novo ciclo de desenvolvimento”, afirmou. Dilma citou a educação como prioridade de um segundo mandato, destacando a igualdade de oportunidades para ricos e pobres. Ela também ressaltou as áreas de saúde e segurança.

Em sua primeira fala, o candidato do PSDB, Aécio Neves, disse que o debate inaugura fase final da campanha “onde brasileiros podem dizer o que querem” e se apresentou como candidato da “mudança profunda”. Ele adotou o discurso da agora aliada Marina Silva (PSB) contra a polarização, dizendo não querer cair na armadilha da “divisão entre nós e eles”. Aécio ressaltou também que o avanço do País nas últimas décadas está relacionado à estabilidade econômica promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, que tinha, segundo ele, oposição do PT. “Nos últimos quatro anos, o Brasil parou de melhorar. Queremos ser o governo que una eficiência e decência.”

Ainda no primeiro bloco do debate presidencial, Aécio reclamou das “ofensas e mentiras” que considera terem pautado a campanha da adversária Dilma. Aécio colou sua imagem à de Marina Silva e Eduardo Campos (PSB), dizendo que foi vítima, assim como eles, da campanha petista. “A senhora não se arrepende de ter feito ataques tão cruéis no primeiro turno?”, provocou.

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Dilma rebateu dizendo que é Aécio que faz ataques cruéis e quem distorce os fatos. Ela argumentou que a informação colocada pelos tucanos de que o PSDB iniciou o Bolsa Família através de programas como o Bolsa Escola é uma comparação errada. “É um programa que não tinha escala nem dimensão. O Bolsa Escola atendia a 5 milhões de pessoas, o Bolsa Família é para 50 milhões.”

Dilma também justificou a acusação de que Aécio acabaria com o papel dos bancos públicos, dizendo que a informação veio de Arminio Fraga, apontado pelo candidato do PSDB como ministro da Fazenda de seu eventual governo. A presidente defendeu a participação dos bancos públicos na economia, citando o BNDES como banco de subsídio à infraestrutura, o Banco do Brasil como financiador do setor agrícola e a Caixa Econômica Federal, do setor habitacional. “Vocês querem diminuir o papel da Caixa no setor habitacional. Sem a Caixa, não tem o Minha Casa, Minha Vida”, argumentou Dilma. “Vocês nunca fizeram programas sociais quando puderam, sempre deixaram a desejar”, completou.

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Aécio repetiu que a petista “falta com a verdade” e disse que o maior programa de transferência de renda na história contemporânea do Brasil foi a estabilização da moeda, obtida pelo Plano Real. “O maior programa de transferência de renda da história contemporânea do Brasil não foi o Bolsa Família, foi o Plano Real, que vocês combateram com toda força”, afirmou.

O tucano disse que Arminio tem defendido não o fim dos bancos públicos, mas a gestão dessas instituições com transparência. Sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, disse que pretende continuar e aumentá-lo, ampliando especialmente o acesso da faixa da população que recebe até três salários mínimos.

Logo depois, Aécio reforçou o argumento de que o P,T de Dilma não sabe reconhecer méritos de governos anteriores e afirmou, durante o debate, que o verdadeiro pai do Bolsa Família é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu correligionário, e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso seria a verdadeira mãe. “Se fizermos um raio-x do DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente Fernando Henrique e a mãe, Ruth Cardoso. O programa do seu governo era o Fome Zero, mas vocês aproveitaram e avançaram no cadastramento único. Parabéns, o presidente Lula tem esse mérito”, afirmou Aécio.

Dilma reagiu com indignação, afirmou não ter cabimento o tucano defender que um programa com a dimensão do Bolsa Família, que atende a 50 milhões de pessoas, ser relacionado a um programa como o Bolsa Escola, que segundo a petista atendia a 5 milhões. “Aí passou de todos os limites, já estamos na fabulação”, disse a presidente. “Vocês jamais aplicaram recursos em grandes programas sociais”, afirmou ao acusar o governo do PSDB, que antecedeu a gestão petista, de “proibir” o governo federal de investir em escolas técnicas. Dilma também aproveitou para engatar a crítica ao ajuste fiscal prometido pelo adversário, argumentando que poderia impactar os programas sociais que são vitrine do governo do PT, como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e o Pronatec, de acesso a ensino técnico. “Não condicionamos nossos programas a medidas impopulares, como ajustes fiscais e choque de gestão”, disse Dilma.

Aécio reafirmou que não pretende acabar com programas sociais nem com bancos públicos, como vem sendo colocado pelo PT. E questionou se, além do Bolsa Família, o Brasil não poderia ter outros programas para combater a pobreza. Aécio disse que sua proposta é de sanear os bancos públicos, ao que Dilma respondeu dizendo acreditar sim que o tucano queira reduzir o papel dessas instituições. “Eu acredito que transparência virou sinônimo de redução do papel dos bancos públicos. Eu não concordo. E acho que é exatamente isso que o senhor quer fazer, diminuir o papel dos bancos públicos.”

Pouco antes a esse embate, Aécio havia questionado o motivo do sigilo de empréstimos do BNDES a um porto em Cuba. Dilma não respondeu diretamente sobre a questão do sigilo, mas disse que o Brasil está disputando financiamentos na área de serviços, porque é uma “área estratégica no mundo”. A presidente argumentou que o processo gera empregos no País. Aécio chegou a pedir explicações de por que esses investimentos não se destinaram a portos brasileiros, ao que Dilma respondeu: “o financiamento não foi feito a Cuba, porque não pode ser feito a Cuba. Fizemos investimentos a empresas brasileiras”.