Pelo segundo dia consecutivo, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) subiu hoje (3) à tribuna do Senado para se defender das acusações de ligação com os negócios do empresário Carlos Cachoeira.

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O ex-líder do DEM fez ataques à Polícia Federal e disse ser vítima de uma “campanha de demolição” da sua honra para cassar o seu mandato – cenário que poderá, segundo o senador, se repetir contra outros parlamentares.

“Hoje, eu sou a bola da vez. Se a tramoia der certo e me amputar o mandato, daqui a pouco pode se repetir com outra vítima, outro senador”, afirmou em tom de alerta aos colegas.

Demóstenes disse que a PF descumpriu a Constituição Federal ao grampear suas conversas telefônicas sem autorização do STF (Supremo Tribunal Federal), uma vez que tem foro privilegiado por ser congressista.

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Segundo o senador, a PF selecionou quatro delegados e dez agentes para investigá-lo “o dia inteiro” com o objetivo de encontrar indícios de ilegalidades. “Das 250 mil horas de gravações, foram pinçadas frases com o objetivo de enlamear minha biografia. Ninguém duvidava da fonte. Seu autor era um tira hermeneuta que relatou com fidelidade o que ouviu. Esse foi o enredo de criação da atmosfera para, de repente, eu ser um caso sem jeito”, afirmou.

Demóstenes criticou o fato de o Conselho de Ética do Senado não ter permitido a realização de perícia nos áudios feitos pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que flagraram sua ligação com Cachoeira.

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Perito contratado pela defesa do senador sustenta que houve adulteração dos áudios, com edições e o vazamento seletivo de informações para prejudicá-lo. “O exame técnico do perito é cristalino. Vou repetir a conclusão: associado à falta de documentação técnica, são observados robustos indícios de edições nas informações acostadas aos autos. Evidências que mesmo sem análise do material original foram possíveis de ser demonstradas”, afirmou.

O senador negou ter pedido R$ 3.000 a Cachoeira para pagar um jato e disse que os diálogos flagrados pela PF não comprovam sua participação no suposto esquema ilegal comandado pelo empresário.

“Deixei de ser gordo em janeiro de 2009, não ligaram o apelido às pessoas. Se o diálogo tinha “gordinho’ e punham meu nome, mais um furo de reportagem. Assim se desenhou o atual cenário. Quando a vítima se deu conta, foi transformada em algoz.”

Num apelo aos colegas, Demóstenes pediu que seja julgado pelos fatos e não por “interpretações dissociadas da realidade”. E disse acreditar que o Senado não vai cassar o seu mandato para fazer justiça.

“O que fica mal para o Senado é sacrificar um mandato em meio a um clima tramado para ejetar um senador. Sou inocente e o tempo provará isso.” Demóstenes prometeu fazer discursos diários na tribuna do Senado para se defender das acusações de ter usado o mandato para atuar em favor dos negócios de Cachoeira.

Amanhã (4), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado votará seu processo de cassação. Se aprovado, segue para votação secreta no plenário do Senado na semana que vem.