| Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil |
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| Delúbio Soares: "Não. Não há ata nenhuma". |
Mesmo empenhado em proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou ontem que não atuava sozinho, pois tinha aval superior para as operações financeiras com que alimentava o caixa 2 do partido. "Eu tinha uma procuração política da direção do partido", disse Delúbio.
"De quem? Do presidente Lula, do José Dirceu?", perguntou o presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB). "O senhor tem um documento? Uma ata que diga isso?", insistiu o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Delúbio disse: "Não. Não há ata nenhuma. Eu tinha uma autorização política". Na avaliação de Efraim, apesar de Delúbio ter-se mostrado escorregadio e muito atento – ao contrário das três outras vezes em que depôs nas CPIs dos Correios e do Mensalão, quando parecia sonolento -, ele acabou por deixar escapar que tinha chefes. "Está claro que fazia tudo a mando de alguém. Sabemos que era ou Lula ou José Dirceu", disse o senador. A questão é que Delúbio não disse quem eram seus chefes.
O depoimento do ex-tesoureiro durou cerca de quatro horas e meia. Delúbio negou ter tentado achacar entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões do banqueiro Daniel Dantas em troca do fim dos embaraços ao Grupo Opportunity: "Nunca pedi nem recebi nada do senhor Daniel Dantas". Admitiu, no entanto, que a pedido do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza teve uma reunião com Carlos Rodemburg, sócio do Opportunity. "Ele queria saber por que o PT não gostava do Opportunity. Eu respondi que nessa questão de negócio cada um tem a sua forma de agir", disse Delúbio.
O ex-tesoureiro voltou a insistir que o dinheiro do caixa 2 do PT veio de empréstimos de Marcos Valério e não da cobrança de propina de empresas ou de operações dos fundos de pensão. Disse que somente os diretórios petistas do Acre, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Piauí não receberam dinheiro pelo valerioduto. Afirmou ainda que os partidos aliados o procuravam para pedir dinheiro. Ao todo, segundo ele, para o PT foram entregues cerca de R$ 30 milhões e para os partidos aliados, R$ 15 milhões.
O comitê financeiro da campanha do presidente Lula, segundo Delúbio, era formado por ele, pelo então presidente do PT José Dirceu, pelo ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto e pelos presidentes do PCdoB e do PCB. Os novos aliados, como o PSB, o PTB e o PP apareceram durante a campanha para o segundo turno.
Em todas as oportunidades que teve, Delúbio negou que a campanha de Lula tivesse recebido dinheiro de quem quer que seja Só admitiu o fato quando não teve jeito de negar. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) insinuou que a Companhia Vale do Rio Doce fez uma grande doação ao PT logo depois de um encontro do ex-ministro José Dirceu com Marcos Valério, quando foi discutido o futuro do nióbio. Sem ter como negar a doação da Vale, porque ela está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Delúbio disse que ela e outras empresas deram dinheiro ao PT, como também o fizeram a outros partidos.
O ex-tesoureiro negou ainda conhecimento de que empresas de bingo de São Paulo e do Rio de Janeiro tenham doado, por estado, R$ 1 milhão para a campanha de Lula, em 2002.



