Quadro Negro

Delator confirma que dinheiro desviado de escolas abasteceu campanha de Richa

Foto: Pedro Serápio/Arquivo/Gazeta do Povo

O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, confirmou em delação premiada que recursos desviados de obras em escolas estaduais, investigados pela Operação Quadro Negro, abasteceram a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB). As informações foram divulgadas pela RPC, que obteve os anexos da delação. O dinheiro era entregue em uma mochila e em caixas de vinho ao então diretor da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude) Maurício Fanini.

De acordo com Souza, Fanini esperava levantar R$ 32 milhões, por meio do esquema, e que com esse dinheiro já seria possível “fazer a campanha” de Richa. Para vencer as licitações, o empresário disse ter sido orientado a apresentar propostas com “descontos agressivos”. Posteriormente, os contratos com a Valor receberam sete aditivos, que somaram R$ 6 milhões. Por meio desses acréscimos é que os dois esperavam chegar aos R$ 32 milhões.

Ainda segundo Souza, “o grosso dos valores” foi desviado diretamente por meio de repasses feitos em dinheiro a Fanini, em 2014.O dono da construtora relatou ainda que chegou a perguntar a Fanini se o dinheiro estava mesmo indo para a campanha do governador. Fanini teria respondido que sim.

Eduardo Lopes de Souza é um dos denunciados no principal processo derivado da Quadro Negro e estava em prisão domiciliar até o mês passado, quando foi liberado pela Justiça para se mudar para Cuiabá, no Mato Grosso.

Dinheiro no banheiro

Segundo o delator, o dinheiro era entregue a Fanini na Sude. Souza entrava no prédio por uma porta lateral e, assim que o via, Fanini indicava o banheiro. Lá, o empresário abastecia uma mochila com dinheiro e deixava ao lado do vaso. Posteriormente, Souza passou a usar caixas de vinho para entregar os maços de dinheiro.

Ao dono da Valor, Fanini dizia ser amigo pessoal do governador. Neste ano, o próprio Richa confirmou sua amizade com o ex-diretor da Sude, mas negou qualquer pedido de arrecadação de dinheiro em seu nome.

Mesada

O delator afirmou ainda ter feito repasse de “mesadas” de R$ 100 mil a Beto Richa. O pagamento teria sido definido em janeiro de 2015, em uma reunião entre Fanini e o governador. Desta vez, o dinheiro seria direcionado ao financiamento da campanha de Richa ao Senado e de Pepe Richa (irmão de Beto) a deputado federal, ambas em 2018. Os valores também ajudariam a pagar a campanha do filho do governador, Marcelo Richa, que se lançaria como deputado estadual, também no ano que vem.

Os pagamentos, segundo o delator, teriam sido feitos pelo menos até junho de 2015, quando Fanini foi exonerado do cargo. Pouco depois, as fraudes na Secretaria da Educação foram descobertas.

Outro lado

À RPC, o governador Beto Richa disse que a delação é mentirosa e sem provas, feita por um criminoso que tem por objetivo amenizar sua pena. O governador diz ainda que nunca solicitou qualquer vantagem ao delator nem autorizou qualquer pedido.