CPMI do Banestado faz reuniões em Curitiba

Em contato telefônico com o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão (PSDB), a CPI Mista do Banestado, constituída no Congresso Nacional para investigar a evasão de divisas através das contas CC5, solicitou as instalações da Casa para realizar audiências amanhã e depois. As reuniões vão acontecer no plenarinho e devem durar o dia todo.

A CPI nacional deverá contar com a colaboração da estadual, que já repassou informações colhidas ao longo de quase oito meses de investigação. O presidente, deputado Neivo Beraldin (PDT), e o relator, deputado Mário Sérgio Bradock (PMDB), já foram ouvidos em Brasília sobre os trabalhos aqui desenvolvidos.

Os membros da CPI estadual se reúnem em sessão reservada na segunda-feira, a partir das 10 horas, também no plenarinho, para analisar o relatório final da comissão, elaborado pela assessoria técnica em conjunto com o relator Mário Bradock. Na quarta-feira, na sessão ordinária da AL que, atendendo solicitação de Beraldin, foi transformada em sessão especial em função da complexidade e extensão do assunto, será apresentado o relatório final da CPI. A sessão começa às 14h30.

Para o ato estão sendo convidadas autoridades dos governos estadual e municipal, do Ministério Público Estadual e Federal, além de entidades representativas, como associações e sindicatos. O governador Roberto Requião já confirmou presença.

Beraldin disse que “o relatório final da CPI vai ser entregue oficialmente numa sessão pública, para que seja possível a todos o acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos pela comissão que desvendou as falcatruas que levaram à insolvência o mais tradicional banco do Paraná”.

Declarou ainda que “a CPI do Banestado realizou aquilo que dela se esperava e que os primeiros resultados já estão sendo sentidos até mesmo antes da apresentação do relatório final, como as prisões preventivas decretadas pelo Ministério Público e a aprovação, em primeira votação, da proposta de extinção da exclusividade para o Itaú das contas públicas do Estado”.

Pedido de habeas corpus vai ao TRF

O advogado do ex-diretor de Câmbio e Operações Internacionais do Banco do Estado do Paraná Gabriel Nunes Pires Neto, Francisco de Assis do Rego Monteiro Rocha, deve ingressar hoje, no Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre, com um pedido de habeas corpus. Gabriel foi preso em Curitiba na tarde de terça-feira, pela Polícia Federal, que cumpriu mandado expedido pelo juiz da 2.ª Vara Federal Criminal, Sérgio Moro.

O ex-diretor é acusado pelo Ministério Público Federal -juntamente com outras sete pessoas – de praticar crimes contra o sistema financeiro nacional, e que teriam causado prejuízos de quase US$ 4 milhões ao Banestado. No mesmo pedido, o juiz também decretou a prisão do doleiro Alberto Youssef, que já está preso na Polícia Federal desde o dia 2 de novembro. Ele é acusado pela movimentação irregular de US$ 3 milhões em uma conta de sua cunhada, Cristina Fernandes da Silva, na agência do Banestado em Nova York, e de sonegar R$ 118 milhões em impostos.

Segundo o advogado Francisco de Assis do Rego Monteiro Rocha o pedido de prisão preventiva do ex-gerente foi recebido com surpresa, “pois ele estava respondendo a ação, e o juiz acatou uma nova denúncia sem ouvir Pires Neto”. Monteiro Rocha destaca ainda que o pedido de prisão preventiva deve ser aplicado somente em casos extremos, quando, por exemplo, o acusado pode fugir ou influenciar testemunhas. “Não existe fato concreto de que isso iria acontecer, e o juiz acolheu apenas suposições”, disse, acrescentando também que o seu cliente não é culpado pelos empréstimos irregulares, já que isso partiu da diretoria do banco.

Internacional

De acordo com o superintendente da Polícia Federal de Curitiba, Jaber Saadi Makul, as investigações que resultaram nas prisões do ex-diretor e do doleiro apontam para a realização de três empréstimos internacionais milionários e sem as devidas garantias, pouco antes do fechamento da agência Banestado em Grand Cayman. Os empréstimos não teriam sido pagos, o que causou significativo prejuízo ao banco. Segundo o superintendente, nessas operações foi identificado um pagamento de US$ 500 mil, em outubro de 98, de Alberto Youssef para Gabriel Nunes Pires Neto, através da utilização da Conta Beacon Hill Service Corp, subconta Ibiza, que é a mesma conta em que teria sido depositada parte de um empréstimo, concedido a empresas que pertenciam aos acusados. Todas essas informações foram conseguidas através de quebra de sigilo bancário no exterior. Os dois estão presos na sede da Polícia Federal em Curitiba.

Campanha

O governador Roberto Requião disse ontem que a prisão do ex-diretor do Banestado Gabriel Nunes Pires Neto é a ponta de um esquema que pode revelar os bastidores da campanha eleitoral de 1998. “O que vem a público agora consolida as informações que eu já tinha, de que essas empresas emprestaram o nome e a razão social para os empréstimos serem realizados e que por isso não foram pagos”, salientou Requião. “Tudo leva a crer que esses empréstimos foram feitos para abastecer de dinheiro a campanha de Jaime Lerner quando o enfrentei nas eleições de 1998”, disse Requião.

O MP acredita que o ex-diretor teria concedido os empréstimos já sabendo que eles jamais seriam pagos. “Os empréstimos não foram feitos para essas empresas. Foram feitos para financiar a campanha eleitoral do ex-governador”, insistiu Requião. (Rosângela Oliveira)

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