Operações de crédito envolvendo as distribuidoras de títulos Essex, Crefisul, Divulpar (esta de propriedade de Ricardo Costa de Moraes e Ademir Guimarães Adur), a construtora Cidadela, a empresa de telefonia de Londrina, Sercomtel, e a tecelagem catarinense Teka, foram os temas dos depoimentos colhidos ontem pela CPI do Banestado na Assembléia Legislativa.
Os depoentes foram os ex-diretores da Banestado Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários, Rodrigo Pereira Gomes Júnior e Raul Félix. Eles explicaram que a maior parte das operações teve início em gestões anteriores e que agiram em busca de soluções para dívidas vencidas fechando acordos que permitissem ao banco minimizar os prejuízos. Teria sido esse o objetivo do acordo com a Essex, referente à compra de títulos precatórios de Alagoas no valor de RS 6,8 milhões. O Banestado recebeu como dação em pagamento a concessão de posse de uma área na Cidade Industrial de Curitiba, avaliada m R$ 5,3 milhões. Segundo Rodrigo Gomes, foi um negócio razoável na ocasião, uma vez que os títulos de Alagoas não tinham qualquer valor de mercado, pois a CPI dos Precatórios no Congresso já havia denunciado que sua emissão fora feita de forma irregular.
Comitê
Tanto Gomes como Raul Félix, frisaram que as operações realizadas durante sua gestão passaram pelo crivo dos comitês do Banestado, antes de serem formalizadas. No caso específico do Sercomtel, Gomes considerou a compra das ações uma operação lucrativa para a corretora na época em que foi feita, embora se tratasse de uma empresa de capital fechado. Ponderou que a área de telefonia estava numa fase de grande crescimento e que havia a perspectiva de abertura do capital da empresa londrinense.
A operação, segundo ele, começou por iniciativa do então presidente do Sercomtel, Rubens Pavan. Gomes garantiu que jamais tratou com o ex-prefeito de Londrina, Antônio Belinati, sobre as ações do serviço de telefonia. Os dois diretores não souberam explicar porque a distribuidora de títulos Divulpar, com capital declarado de R$ 7 milhões, obteve junto ao Banestado financiamento de mais de R$ 50 milhões. Observaram, entretanto, que as normas do Banco Central permitiam que as empresas levantassem valores até 10 vezes superiores ao seu capital.
Gomes, um dos donos da empresa de crédito Megacred, que operava na região de Araucária e pediu concordata em 2002, gerando inúmeros prejuízos para os aplicadores, afirmou que se afastou da administração do negócio, onde tinha como sócios dois irmãos, quando assumiu a corretora do Banestado, atendendo normas do Banco Central. Garantiu que a Megacred não negociava com o Banestado. Lá, mantinha apenas conta corrente. Como mantinha também no Banco Araucária.
Confusão
A sessão foi assistida por representantes da associação de credores da Megacred, lesados com a falência da empresa. Quando Rodrigo Gomes e Raul Félix deixaram o plenarinho, o grupo foi atrás, gritando palavras de ordem e chamando-os de “ladrões”. Aos gritos, várias pessoas os acusavam pela perda de recursos que estavam aplicados na investidora. Os seguranças da Assembléia Legislativa tiveram trabalho para conter os mais exaltados, enquanto Gomes e Félix saíam às pressas do Complexo Legislativo Aníbal Curi.A CPI decidiu convocar o ex-secretário de Comunicação Social Jaime Lechinski, e representantes das agências de publicidade que atenderam o banco no período de 1995 a 1998, Mercer e Heads. A sessão foi marcada para a próxima terça-feira (21/10).
Movimentação
Prejuízo foi de RS 316 milhões
Segundo o presidente da CPI, deputado Neivo Beraldin (PDT) o total das operações deficitárias da Corretora Banestado chegaram a R$ 316,6 milhões. Ele listou as principais com os prejuízos que causaram ao banco (em milhões de reais):
Financiamentos:
1 – Títulos para a Divalpar DVTM Ltda.- 52,1
2 – Títulos para a Essex DVTM Ltda.- 6,8
Aquisições:
3 – CDB do Banco Crefisul -2,5
4 – Debêntures da Crefisul Leasing – 29,0
5 – Debêntures da Cidadela Trust Recebíveis SA -19,8
6 – Debêntures da Teka Tecelagem Kuehnrich SA -8,6
7 – Ações da Sercomtel -12,0
8 – Títulos precatórios de Alagoas – 105,3
9 – Títulos precatórios de Osasco – 65,1
10 – Ações do Banestado junto a Fundos – 15,4