Casagrande: debate raso abriu espaço para tema aborto

Eleito governador do Espírito Santo com a segunda maior votação proporcional do País, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) atribui o destaque dado à discussão sobre o aborto na campanha eleitoral ao fato de os candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, José Serra, terem evitado debater temas importantes para o País no primeiro turno. Casagrande acredita que a omissão deu aos religiosos a chance de incluir o tema do aborto entre os principais pontos da campanha.

“Como não teve um debate mais profundo de temas importantes para o Brasil, acabou que um tema religioso tomou conta do processo eleitoral”, afirma. O senador lembra que, mesmo sendo “um tema central” para os cristãos – católicos e evangélicos -, as pesquisas mostraram que não foi o aborto, mas as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, que mais repercutiram na escolha do eleitor.

Ele nega que o suposto aparelhamento do Estado pelo PT e por partidos aliados possa vir a tirar votos de Dilma. Justifica dizendo que o assunto se trata de um “discurso da oposição” assimilado por apenas uma parte da sociedade.

“Não é só agora na campanha eleitoral”, defende. “É uma característica que o PT deixou se firmar em torno de imagem, em torno da sua sigla, que acabou se tornando um tema do processo eleitoral, da eleição, e isso influencia um porcentual pequeno da sociedade brasileira.”

Qualquer que seja o resultado eleitoral, Casagrande acredita que a situação vai mudar para se ajustar a “uma composição mais equilibrada de governo”. “O Brasil tem de caminhar profissionalizando mais a gestão”, afirma.

‘Paixão’

Aliado da petista, o senador avalia que o erro de apostar na vitória no primeiro turno não foi apenas dela e de seu partido, mas também da oposição, dos trabalhadores e dos empresários. “Isso fez com que houvesse uma acomodação e, de certa forma, algumas declarações que acabaram prejudicando a candidatura da Dilma”, diz.

No primeiro turno, ele afirma que nem Dilma nem Serra conseguiram despertar “paixão” no eleitorado, ao contrário do que fez a candidata do PV, Marina Silva. “Já agora, os dois começam a despertar as paixões de cada lado, porque há a necessidade de um ataque mais acirrado para o Serra tentar virar o jogo e da Dilma para tentar manter sua posição da dianteira”, diz. “Isso acaba envolvendo as pessoas mais na disputa eleitoral.”

Casagrande diz não saber quem vai ganhar a eleição, que hoje considera “disputada e polarizada”, mas imagina que a militância “mais aguerrida do PT” pode favorecer a sua candidata.