Carta de Botto detona Requião e seu governo

O procurador Sérgio Botto de Lacerda deixou o governo ontem atirando para todos os lados e principalmente contra o governador Roberto Requião (PMDB). Ao renunciar à presidência do conselho de administração da ParanaPrevidência e da sua vaga no conselho das Centrais Elétricas do Rio Jordão (Elejor), como antecipou ontem o colunista Fábio Campana, Botto escreveu uma carta a Requião, declarando-se traído e acusando o governador de omissão diante de supostas irregularidades em sua administração.

?Usou-me o quanto pode, mas nunca ousou ser leal e firme como diz ser em seu governo e em outras relações com os seus subalternos que dele dependem?, diz um trecho da carta de demissão do procurador. Ele se disse vítima de um ?fuzilamento alegórico? por parte de seus desafetos no governo, que ele anteriormente identificou como o corregedor-geral, Luiz Carlos Delazari, e o secretário estadual de Segurança, Luiz Fernando Delazari, entre outros.

Botto de Lacerda distribuiu cópias do texto aos meios de comunicação e aos deputados de oposição ao governo. Coube ao líder da bancada de oposição, Valdir Rossoni (PSDB), fazer a leitura do texto em plena sessão, na tarde de ontem. ?Até agora, eram os deputados de oposição que levantavam as denúncias. Agora, é o governo denunciando o próprio governo?, afirmou o tucano.

Em um trecho da carta, Botto de Lacerda afirmou que Requião deve assumir a responsabilidade pelos atos do seu governo. E diz que foi enganado ao retornar ao governo, em setembro, quando assumiu a presidência do conselho da ParanaPrevidência. ?Nossa reaproximação se deu para mim como um engodo. Com o coração aberto e alertado pelos próximos, arrisquei acreditar na sua capacidade de justiça. Enganei-me ou fui enganado?, atacou.

Denúncia

A carta de demissão de Botto de Lacerda foi o ponto final de uma disputa interna que começou com a sua saída da Procuradoria- Geral do Estado no início desse ano e culminou na início da semana com a denúncia de que Botto cogitou a possibilidade de representar o sócio privado da Sanepar, o consórcio Dominó Holding, em uma negociação para a venda das ações do grupo para a estatal.

Conforme disseram aliados do governo a O Estado, a informação chegou até o governador levada por diretores da Copel, que também detém ações da Sanepar. Eles disseram a Requião que haviam recebido um pen drive com a proposta da empresa Sanedo, uma das integrantes do consórcio, para a venda da sua participação acionária na Sanepar ao governo. No mesmo suporte, estariam registradas cópias de e-mails trocados entre Botto de Lacerda e um representante da Sanedo, que pretendia contratá-lo como advogado.

A publicação da informação pela Gazeta do Povo levou o procurador a se manifestar publicamente, dizendo que foi procurado e recusou a proposta da Sanedo. Na sessão de segunda-feira, a oposição pediu a saída de Botto do governo. A liderança do governo não respondeu. Na carta, o procurador reclama que o líder do governo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB), silenciou diante dos ataques dos adversários.

Romanelli não quis comentar. Disse apenas que como servidor público, Botto de Lacerda deve responder pelos seus atos. ?É uma situação inusitada. Ele tem que esclarecer à opinião pública sobre seu comportamento. Ele deve essa explicação desde que reconheceu as tratativas que vinha fazendo com o consórcio Dominó?, disse.

Copel emite nota sobre a demissão

A Copel emitiu nota oficial no início da noite de ontem comentando a carta de demissão de Sérgio Botto de Lacerda. Lembrando que Botto integrava o conselho de administração da companhia desde o dia 4 de maio de 2007, ?tendo recebido – normal, pontual e integralmente – os honorários relativos à função?, a Copel disse na nota que:

?No episódio que foi tornado público envolvendo dados digitalizados armazenados em um ?pen drive?, a Diretoria da Copel encontrou arquivos cujo conteúdo aponta para procedimentos ou conduta considerados como irregulares ou, no mínimo, incompatíveis com os de um membro de seu conselho de administração, que não deveria participar, interferir ou atuar em favor de terceiros – mesmo em caráter particular como profissional, posto tratar-se de um advogado – em assuntos envolvendo a Copel?.

A companhia informou que o assunto encontra-se em análise para que, sendo o caso, seja levado ao conhecimento do Ministério Público para as providências cabíveis.

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