O pecuarista José Carlos Bumlai é um “mutuante contumaz” de instituições bancárias à beira da falência. A afirmação é dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, que na terça-feira, 23, conseguiu a prisão do amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo central da 21ª fase das investigações, batizada de Operação Passe Livre.

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O procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa da Lava Jato, aponta Bumlai como intermediador de um empréstimo para o PT, em 2004, no valor de R$ 12 milhões, tomado no Banco Schahin e nunca quitado. Três anos depois, o pecuarista teria atuado para dirigir um contrato de US$ 1,3 bilhão da Petrobras para o Grupo Schahin.

No pedido de prisão de Bumlai, no entanto, a Procuradoria aponta negócios do pecuarista com outros dois bancos que acabaram falindo: o Banco Rural e o BVA.

“Por intermédio da quebra de sigilo de dados, constatou-se que José Carlos Bumlai, auxiliado por seus filhos Mauricio, Cristiane, Guilherme e Fernando, aparentemente, é um mutuante contumaz de bancos que estão à beira de liquidação extrajudicial como o Banco Rural e o BVA”, afirma o MPF.

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BVA

O caso de maior destaque, depois da operação com o Banco Schahin envolvendo supostamente o PT, é o de empréstimos e valores movimentados no Banco BVA, de R$ 18 milhões em 2012. “Bumlai recebeu empréstimos vultosos do Banco BVA meses antes da intervenção por este sofrida da parte do Banco Central”, destacou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, no decreto de prisão do pecuarista.

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“Embora os créditos não estejam esclarecidos, foi possível identificar pelo menos um empréstimo tomado por José Carlos Bumlai do Banco BVA no valor de R$ 3.817.000,00 em 25 de julho de 2012”, registra Moro.

Da mesma forma que o empréstimo com a Schahin nunca foi quitado regularmente, o MPF aponta que este empréstimo do BVA deveria ter sido saldado em 72 parcelas, mas somente foram pagas dezenove prestações, no valor total de R$ 596 mil.

O BVA sofreu intervenção em outubro de 2012, pelo Banco Central, sendo decretada sua liquidação extrajudicial em 19 de junho de 2013. A decretação de falência saiu em 17 de setembro de 2014.

O juiz destaca ainda em sua decisão, informação da Receita Federal de que perante o órgão, Bumlai “não declarou nenhuma operação de crédito com o Banco BVA no ano de 2012”. “Tão somente um saldo de R$ 38,06 (trinta e oito reais e seis centavos) em conta corrente nesta instituição financeira, o que reforça a suspeita sobre a operação”, afirma Moro, que esclarece em seu despacho que os “fatos necessitam de melhor apuração antes que se possam extrair maiores conclusões”.