Binho: ligação de Lula pode ‘sensibilizar’ Marina

Um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser decisivo para definir o apoio mais disputado deste segundo turno das eleições presidenciais, o de Marina Silva, candidata derrotada do PV e que saiu das urnas com um capital de cerca de 20% dos votos dos brasileiros. Essa é a aposta de Binho Marques (PT), governador do Acre e melhor amigo de Marina.

Em entrevista exclusiva à Agência Estado, Binho revelou que o presidente Lula ainda exerce uma forte influência sobre Marina e poderá, com sua atitude, angariar sua adesão à campanha da petista Dilma Rousseff: “Se eu fosse ele (Lula) ligaria, ela (Marina) adora o Lula, tem um respeito profundo por ele, assim como ele por ela”.

Na opinião de Binho, amigo de Marina há mais de 30 anos, a última hipótese seria ela declarar apoio ao candidato tucano José Serra nesta segunda etapa da corrida presidencial. “Não consigo imaginar ela apoiando o Serra, acho mais fácil ela ficar neutra”, opinou. Apesar da aposta, o governador do Acre negou que tenha sido escalado pelo Planalto para tentar persuadir Marina e garantiu que só opinará diretamente se for consultado por ela. “Só vou tocar no assunto se ela me procurar”, afirmou. “Eu não vou forçar a barra com ela, não posso fazer isso”, justificou.

Para o governador, o resultado das urnas foi claro: o eleitor votou em Marina, não no PV. “Esses votos não são do PV, são da Marina, ela é muito maior que o partido”, analisou. Segundo Binho, a última vez em que os dois conversaram foi no último domingo, quando a própria Marina ligou para comentar a apuração dos votos no Acre. Binho disse que Marina estava muito feliz com seu resultado e que ele aproveitou para agradecer o apoio dela a Tião Viana, governador eleito pelo PT.

Hoje foi a vez do próprio Tião Viana ligar para Marina, agradecendo seu empenho no Estado, mas nem ele nem Binho tocaram na questão do apoio do PV no segundo turno da eleição presidencial. “Não posso dizer que ela não vai apoiar o Serra, só acho muito improvável”, reforçou.

Estratégia

Padrinho de um dos filhos de Marina, Binho revela que a pior estratégia para tentar convencer Marina agora é a pressão. “Ela não toma nenhuma decisão apressada, tem que processar, escuta muito as pessoas, usa com inteligência a sabedoria coletiva”, disse. “Ela vai ficar um tempo ‘ruminando'”, acrescentou.

Ele diz acreditar que a posição do PV será relevante para a tomada de decisão, mas que se ela discordar do ponto de vista dos dirigentes da legenda, não vai haver possibilidade de seguir a orientação do partido. “Não creio que o PV vá impor uma decisão à Marina, não era assim nem no PT, ela não é de entrar no ‘democratismo'”, disse. “Se discordar, ela vai dizer”, prevê.

Decisão da líder

Para o candidato derrotado do PV ao governo paulista, Fábio Feldmann, o partido deve seguir o que for decidido por Marina. “A sinalização virá dela, esse é o papel da Marina”, disse. Ex-tucano, Feldmann admite que é favorável a uma aliança com o PSDB de Serra, mas nega que esteja trabalhando em favor dos ex-companheiros de partido. “Não me coloco como interlocutor do PSDB, a interlocução tem que ser institucional mesmo”, avisou.

Assim como ele se coloca pró-tucanos, Feldmann afirma que a afinidade de Marina com o PT é “óbvia”. Na sua opinião, o crédito da votação do primeiro turno pertence a Marina e cabe ao partido segui-la. “Vou respeitar o que a Marina decidir”, anunciou.

Já João Paulo Capobianco, que foi coordenador-geral da campanha presidencial do PV, aprova a “postura institucional” de discutir em convenção o apoio do partido no segundo turno e não de decidir a questão de forma “personalista”. “A opinião da Marina é muito importante porque não é pessoal, é uma opinião que representa a força de um conjunto, e isso é maior que o PV”, disse. “Marina foi lastreada (nas urnas) por um posicionamento coerente”, avaliou.