Banestado fez operações por pressão da diretoria

Operações lesivas ao Banestado foram efetuadas por pressão da diretoria, mesmo no período de saneamento que antecedeu a privatização. A denúncia foi feita pelo auditor fiscal da Receita Federal José Henrique Friedrich, que foi funcionário do banco por 14 anos, chegando a atuar na chefia da Mesa de Operações de Crédito na ausência dos titulares.

Ele depôs na CPI do Banestado na Assembléia Legislativa, ontem de manhã, antecedendo o ex-presidente da instituição, Manoel Garcia Cid. Neco Garcia também se referiu a pressões de diretores em favor de recomposições de dívidas prejudiciais ao banco. Citou como exemplo uma operação que beneficiou o grupo Jabur, de Londrina, prevendo a quitação a prazo e através do recebimento de pneus que qualificou como de segunda linha. E da empreiteira de obras Xingu. Garcia, como os demais ex-dirigentes do Banestado, frisou que o início dos problemas se deram no passado, principalmente em decorrência da liquidação do Badep e conseqüente transferência de seus créditos para o banco estatal. E revelou que chegou a intervir junto à diretoria da Copel para que depositasse no Banestado os recursos arrecadados com a venda de ações da companhia no mercado internacional. Fez isso, segundo explicou, porque o banco Itaú, dois anos antes de comprar o Banestado, estava se habilitando a receber a maior parte dos depósitos. Mesmo assim, só uma pequena parte desse dinheiro teria sido efetivamente depositada no banco paranaense.

Pressões

Friedrich explicou aos membros da CPI o funcionamento da Mesa de Operações, destacando que sua principal função era subsidiar tecnicamente as diversas instâncias responsáveis pela concessão de créditos, dos comitês internos ao Conselho de Administração. As deliberações, segundo ele, eram tomadas em colegiado, conforme determinam as normas que regem o sistema.

As pressões superiores, porém, ignoravam essas regras, passando por cima da Mesa de Operações e até mesmo desconsiderando pareceres contrários de gerentes de agências. Em 1998, a divisão foi informada de que deveria abster-se de pareceres técnicos em algumas operações do interesse da cúpula do banco.

Preocupado com o fato de que algumas dessas negociações eram lesivas ao banco, ele buscou orientação junto à representante dos funcionários no Conselho de Administração, Zinara Andrade do Nascimento, que indicou um funcionário do BC para ouvir suas reclamações. Elas foram externadas através de carta. Em vez das providências que esperava, em fevereiro de 1999 Friedrich acabou sendo afastado de suas funções. Quatro meses depois recorreu ao Plano de Demissão Voluntãria.

Em 2000, o ex-funcionário nomeou advogado e apresentou denúncia ao Ministério Público estadual. Disse que demorou a fazê-lo porque estava psicologicamente abalado e temia por sua segurança pessoal.

Privatização

Neco Garcia Cid afirmou aos deputados que assumiu o comando do banco já ciente de que ele seria privatizado. Recordou os passos que foram dados nesse sentido, com a aprovação, pela Assembléia, do empréstimo de R$ 4,1 bilhões do governo federal, depois atualizado para R$ 5,1 bilhões para o saneamento .

A situação do banco era crítica, e foi, segundo ele, exposta com todas as letras pelo ex-secretário da Fazenda e presidente do Conselho de Administração, Giovani Gionédis, e outras autoridades ligadas à área. Nomeou alguns setores da instituição que tiveram lucros durante sua gestão (Del Paraná e Gralha Azul).

Sobre os balanços que, após vários anos de lucro, à partir de 1997 passaram a apontar prejuízos, atribuiu à situação de fragilidade da instituição, a perda de investidores, aos provisionamentos determinados pelo Banco Central e à orientação de ativar operações em que os devedores apresentavam como garantia precatórios do governo. Também informou que esses balanços não foram apresentados na época, mas dois anos após. Foram postergados, com a anuência do BC, até a entrada dos recursos do governo federal para saneamento.

Reclamou que a diretoria do banco não tinha acesso às operações da Leasing e da Corretora, a não ser por meio dos balancetes, depois que já tinham sido efetuadas; acusou ingerência política na indicação de cargos no banco, e procurou justificar o patrocínio do banco ao piloto de fórmula Indy Light Ayrton Daré Júnior, de Bauru (SP), como forma de manter na instituição os depósitos do grupo empresarial capitaneado por seu pai, Ayrton Daré, no valor de R$ 30 milhões.

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